De volta ao Brasil, após a perda do meu super cão querido e da despedida da casa em que vivi desde a infância, a família começou a querer conduzir minha vida: o caminho profissional a seguir, como ganhar dinheiro, o certo, o errado, enfim ignorando minhas aptidões e vontades, fazendo pouco delas, esquecendo também da depressão. Estava prestes a explodir, mas tinha uma força interna que acredito ter sido reabastecida pelos meus dois anos de vivência londrina, somadas ao apoio de meus avós.
31 dezembro 2008
17 dezembro 2008
Se...
ah, essa consciência que apalpa a crueza da vida e com a mesma intensidade, colocando todos os cinco, seis sentidos sente a beleza da existência... Se não fosse a depressão seria muito feliz, de uma felicidade simples, interna...
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Crises
13 novembro 2008
MEMORIAS
Lembranças que submergem de sopetão, o lixo emocional de outrora está boiando. Bóiam também as doces memórias, positivo e negativo se equilibram. Nem tanto. Nessa fase do sol nascente iluminando minha consciência, as questões sobre os porques de ter desenvolvido depressão com tão pouca idade começam a ser respondidas. Aos onze anos tive a primeira crise.
04 novembro 2008
SÓ UM ABRAÇO
"Procurei quem pudesse ouvir minha dor com o coração, entretanto o que recebi foram doutrinações e reprimendas pelo que sentia." - livro Prazer de Viver - Editora Dufaux. Fui criada no espiritismo, seja lá o que isso realmente quer dizer, já que nós seres humanos somos experts em deturpar o conteúdo das coisas, até de pessoas!
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Do Livro "Prazer de Viver" - editora Dufaux
"Não matamos a nós mesmos por covardia ou para por fim a algo; matamo-nos porque não sabemos existir." páginas 108 e 109
VEREDITO: CULPADA!
A depressão me fazia sentir culpada. Culpa por me sentir mal, por não ter energia para reagir, por ficar imobilizada, por não ter força, culpa, culpa, culpa!
SE (de Rudyard Kipling - 1865 a 1936)
"Se és capaz de manter a tua calma quando Todo o mundo ao redor já a perdeu e te culpa; De crer em ti quando estão todos duvidando, E para esses no entanto achar uma desculpa; Se és capaz de esperar sem te desesperares, Ou, enganado, não mentir ao mentiroso, Ou, sendo odiado, sempre ao ódio te esquivares, E não parecer bom demais, nem pretensioso; Se és capaz de pensar, sem que a isso só te atires; De sonhar, sem fazer dos sonhos os teus senhores;
03 novembro 2008
ATUAÇÃO
De volta ao Brasil já sabia o que queria: estudar cinema do ponto de vista do ator, de cinema. Pesquisei bastante e achei vários cursos de atuação para tv e teatro. Já estava desesperada, primeiro porque não sabia de onde vinha essa necessidade de cinema, segundo que estava com 24 anos iniciando os estudos para minha futura profissão,
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Causas
COMER, COMER!!!
Como diria minha mãe é psiquite!
Sim a psiquite está detonando a minha pele em alergias e influenciando minha mente a só pensar em comida! parece que estou com o encosto do rei momo a me seguir o dia inteiro!!!!!!!
sonhei com uma torta de limão linda, tão cheirosa que acordei no meio da noite com água na boca disposta a ir na confeitaria 24 horas... O que é isso???
Gente não páro de pensar em guloseimas! Esta semana tenho ido dormir pensando no café da manhã, antes é preciso refrear o impulso de tomar sorvete as duas da madrugada.
Eu hein!
31 outubro 2008
IPLA
A dez anos atrás minha irmã cursava psicologia, adorava ler sobre o assunto, mas ficava assustada com as doenças mentais, achava que eu estava seriamente comprometida, já que me identificava com muitas delas. Na verdade até hoje às vezes pergunto para o meu terapeuta se ele tem certeza que não sou esquizofrênica ou bipolar ou psicótica, enfim pinel. Ele diz que não, ufa! O diagnóstico é depressão mesmo.
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Tratamento
29 outubro 2008
CAOS DA VOLTA
Após dois anos em Londres retornei para o Brasil, estava com 24 anos. Voltei decidida a ir atrás do meu sonho profissional de criança: trabalhar com cinema, roteiros principalmente. Acredito também que desde sempre quis ser atriz, mas como era do interior, cidade provinciana, sempre ouvia tantos mitos a respeito da profissão que acho que acabei por sentir vergonha de admitir que queria ser algo tão artístico. Bom, meu retorno para as terras brasileiras foi, digamos, um pouco traumático.
28 outubro 2008
DESCOBERTAS
O tempo que passei em Londres foi maravilhoso. Amei a cidade, as pessoas, descobri que há um lugar no planeta Terra chamado Ilhas Maurício e que os chocolates da Hungria são deliciosos. Me sentia muito bem na terra da rainha, aonde a depressão cedeu bastante. Comecei a me conhecer, descobri muitas coisas a meu respeito, uma delas foi que em país desenvolvido poderia ser pobre, já que isto implicaria em ter férias e viajar para Grécia, Egito, fazer safári, ou seja viagens que daqui do Brasil nem sendo de classe média teria a chance de realizar.
27 outubro 2008
PORQUÊS
Agora vem uma fase nova, os porques de ter desenvolvido depressão...
Cada ser humano tem seu mundo íntimo e somente ele pode se admnistrar. A depressão é extamente assim, cada qual tem que aprender a se ouvir para poder viver com qualidade mesmo com a doença. É o que venho buscando e acabo esbarrando no meu passado...
Pois que vou esbarrar nele quantas vezes for preciso até que me sinta em paz e que possa finalmente aproveitar o presente.
Para o futuro gostaria um dia de ver as pessoas encarando a depressão como uma doença assim como uma diabetes, sem tantos preconceitos e tabus, sem fazer dela a Aids do século XXI.
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26 outubro 2008
Finalmente estou mal, mas estou bem!
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ouvi de uma amiga, alma gêmea depressiva:
- "só quem tem depressão sabe o que é, agora o pior de ter depressão é ter que ser compreensiva com aqueles que não tem."
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Preconceito
junho 2008
Achei estes escritos na minha carteira. O bom de ter blog é isso, organização! Resisti à tecnologia, mas sucumbi!
- Há perguntas que são só para produzirem som e distrair.
- sou triste, por isto tento com que as pessoas a minha volta fiquem "felizes". Adoro contrastes!
- Assisti a um filme chamado "coisas que perdemos no caminho" (things we lost in the fire) e fiquei impressionada ao constatar que as crises de abstinencia do personagem drogado se assemelharam em muito com a crises agudas de depressão que costumava ter. É como se o corpo e a alma sentissem falta de algo...
21 outubro 2008
Londres
Ontem lembranças da minha época londrina vieram conversar comigo. Fui muito feliz na terra do Harry Potter mesmo vivendo na linha da pobreza. Conheci pessoas maravilhosas... Me sentia muito bem trabalhando naquele pub "Horse and Groom", adorava quando servia uma bebida para o cliente, uma para mim e outra para o meu chefe e o bar todo se envolvia em conversas das mais variadas. Conheci pessoas interessantíssimas de diferentes idades, fiz amigos leais, poucos inimigos passageiros....
Que saudade que me deu! E então me toquei que mesmo com a depressão é possível ter momentos leves e memoráveis na vida e que eles me inundem de esperança quando a danada me atormentar.
London London!
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17 outubro 2008
????????????????????????
Não queria assumir que seria um problema para minha família, queria ser como a maioria das pessoas que conheço que vivem suas vidas "normalmente" com os pés fincados na Terra: trabalham, se relacionam, sentem-se bem às vezes sentindo-se mal e não o contrário.
Mas algumas situações são e por mais que tentei mascarar e envernizar a verdade, ela sendo, somente esperou o tempo descascar as aparências para então discretamente aparecer. Uma aparição aos poucos para não causar estardalhaço. Foi assim que a verdade verdadeira se fez notada, sem alardes, dando tempo para os outros acostumarem-se a ela.
E se me sentia desconfortavelmente um peixe fora dágua talvez foi porque resisti à morte, adiando o renascimento, fortalecida em outro ambiente.
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16 outubro 2008
CVV
Uma lembrança caiu com tamanho estrondo na minha cabeça que até galo formou. Depois que terminei a faculdade de hotelaria, insisti em dar uma chance para a minha pequena porção hotelária otária e trabalhei um ano na área. Debandei, me mudei para Marília interior de SP e só a depressão pode explicar o que um depressivo apenas pode experimentar, resolvi virar sacoleira. Vinha para SP e também viajava para Maringá no Paraná em busca de mercadoria, roupas e bijuterias, para revender.
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14 outubro 2008
TRABALHO VS DEPRESSAO
Já se tornou maçante ouvir de pessoas desavisadas: "Se fulano trabalhasse o dia todo não teria tempo de ter depressão". Claro que não somos obrigados a saber tudo, mas quando somos ignorantes em certo assunto o melhor é ficar quieto! Como diz o ditado: "em boca fechada não entra mosca!". Se nao sabe sobre depressao, shhhh! Ou va ler a respeito!
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11 outubro 2008
É isso o que essa doença chamada depressão faz: chega um momento em que o doente somente enxerga e sente os espinhos das roseiras, e por mais que saiba que as rosas também estão lá, desesperadamente seus cinco sentidos não as registram.
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rosa vs ESPINHO
Roseira linda, cada rosa de uma cor: rosas rosas, rosas vermelhas, rosas brancas, rosas amarelas, que belas! Pétalas macias que cantam aconchegadas umas às outras e as folhinhas a dançar! Nos caules há espinhos espetantes, interessantes! Reparo mais nos espinhos, são cortantes! Ainda observo as pétalas, belas! Mas os espinhos... Intrigantes, machucam! As pétalas suavizam! Porém os espinhos são de vários tamanhos.... O colorido das pétalas me maravilham! De repente o espinho me espeta, desaforado! As pétalas estão fora de foco! Alcanço a rosa, os espinhos furam, derrubo-a no chão, as pétalas se separam! Agora só consigo enxergar os espinhos e eles passaram a se soltar dos caules e veem em minha direção! Dói!
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07 outubro 2008
DEPRESSÃO, EUUU???
Quantas vezes meus lábios sorriram obrigados a mostrar algo que não condizia com minha alma, quantas vezes os olhos disfarçadamente buscaram o tecido seco da roupa para apagar o vestígio de qualquer lágrima que fosse, quantas vezes sufoquei minha consciêcia evitando que sua verdade não me revelasse suas feridas ensanguentadas, cobrindo-as com belas toalhas floridas. Incontáveis vezes...
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01 outubro 2008
MELHORA
Tinha pressa de viajar, de trabalhar, de me sustentar, de ir em bsusca dos meus sonhos, na verdade de ter sonhos, de aprender inglês e fazer cursos de cinema, tinha pressa de viver! Queria compensar os anos em que ficara apática mergulhada no lamaçal da angústia devido à depressão.
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27 setembro 2008
DE VOLTA
Tratamento desesperançoso com bolinhas homeopáticas. Antes dos meus 23 anos, no início dos tratamentos para depressão sempre ficava na expectativa da melhora que não vinha. Com a experiência veio também a descrença. Portanto comecei a tomar a medicação sem esperar absolutamente na-da. Meu namorado ao contrário, estava recheado de fé e medo. Confidenciou-me que ficava receoso com minha melhora, talvez eu me sentindo bem não quisesse mais o relacionamento.
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25 setembro 2008
MILÉSIMO TRATAMENTO?
Tinha uns 23 anos, havia me formado na faculdade não sei como, trabalhado na área, mesmo com tamanho mal estar interno, para ter a certeza de que do curso de hotelaria a única vontade que havia me restado era a de ser hóspede em hotel. Após inúmeros tratamentos fracassados para depressão, um amor de namoro amoroso, a família que ainda não entendia direito o que se passava iniciei um novo tratamento homeopático,
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23 setembro 2008
FIRMEZA!
Decidi: quero ser feliz. Sim, tenho uma limitação chamada depressão, tenho momentos em que o mal estar me corrói, sei que talvez nunca fique curada dessa doença, mas o que é esse nunca? A vida é impermanente e apressadamente fugaz, o próprio "nunca" já foi e voltou. Se a depressão me conceder cinco segundos de liberdade, seja em um dia ou em um mês, será nesses cinco segundos que trarei a felicidade, e por cinco segundos vou vesti-la e por cinco segundos minha alma se aquecerá. Quero ser feliz!
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20 setembro 2008
MÉDIUM
Durante minhas crises agudas fui até uma cidadezinha, São Pedro, visitar uma médium, precisava de uma luz para saber o que fazer comigo. Ela era uma lavadeira, simples, daquela simplicidade que enche o coração de paz e que me fez (e faz) sentir: meu Deus como tenho que evoluir para chegar a esse estado íntimo de serenidade!
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NAMORO
Aos dezenove anos era estudante de faculdade, depressiva, suicida em potencial, com inúmeras tentativas em vão de tratamentos no currículo bem como um namorado. Em meio aquele nevoeiro causado pela doença não conseguia enxergar muito a minha vida, nem o caminho sendo percorrido. O namorado se tornou meu porto seguro, ficamos muito amigos, confidentes.
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11 setembro 2008
SUICÍDIO
O suicído era uma escultura tão enorme e imponente que nem conseguia enxergá-la. Ela estava lá, podia apalpá-la acreditando ser apenas uma massa de cimento. Somente agora sobrevoando meu passado avisto sua forma. É dele!
Se de fato tivesse tido sucesso nas tentavias suicidas jamais os entes queridos saberiam da aflição que dirigia minha vida a ponto de exterminá-la. Seria mais um daqueles casos em que as pessoas dizem: "nossa fulana se matou do nada!". Não, ninguém se mata do nada, ninguém desiste desta chance assim, por puro capricho. Os suicidas em potencial adiam suas partidas até onde os nervos aguentam, talvez incoscientemente buscando um motivo para ficar, mas diante de tantos outros para partir a maioria vence e assim o fato é consumado. As aparências enganam, o universo íntimo é misterioso até mesmo para seu dono, quanto mais para os olhos alheios. E às vezes basta ser sugado por um buraco negro para desistir.
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08 setembro 2008
ESPERANÇA DA RUA
Estava me sentindo muito cansada, sem energia, angustiada, enfim estava sendo atacada pelos sintomas da depressão. Estacionando o carro avistei pelo retrovisor um rapaz estilo malandrinho se aproximando. Ele parou atrás do veículo e iniciou a interpretação de ajudante de manobrista. Pensei: "ai que saco esses caras de rua que ficam mendigando!, não tô a fim de falar na-da! E ele vai me obrigar a falar, porque vou ter que explicar que não tenho dinheiro só cartão! Justo agora que eu não queria falar na-da! Que saco esse cara! Que saco!".
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03 setembro 2008
SUICÍDIO DOIS
Tem ficado cada vez mais difícil continuar este desbravamento pela minha história da depressão. E ainda há tanto que preciso relatar, ou melhor, desabafar... Dezenove anos, segundo ano de faculdade. Estava no intervalo da aula deitada em uma mureta, ardia em febre e tinha a angústia grudada na barra da minha calça, a puxá-la de modo bastante irritante. Fingia estar tudo bem porque não queria levantar suspeitas, mas já havia decidido sair de fininho, não queria a tropa da amizade atrás de mim.
AMOR GG
Filme: A vida dos outros |
Onde há amor, não há impotência! Ele já é tão potente por si só que sem esforço atua, nos dando a impressão de nada estar fazendo já que age suavemente, sem ruídos.
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AMOR
Na Faculdade a depressão estava grave, fazia muita, muita força para viver os meus dezenove aninhos. Como lidar com o fato de ter uma doença tão invisível facilmente associada a preguiça, frescurite, mimo, falta de dar valor ao que tem, chilique, etc etc etc...? Passei a ser atriz, um lado meu queria muito ser aceita, consequentemente fingia que estava tudo bem.
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02 setembro 2008
XIXI FOSFORESCENTE?
Já melhorei e já piorei. É assim com esta doença. Remédios novos e vitaminas. Muitas para ver se ganho energia. Comecei a tomar hoje uma vitamina nova que faz meu xixi ficar amarelo fosforescente. Sei que isso é super íntimo e desnecessário de ser comentado, mas precisava desabafar que agora além de depressiva médium suicida em potencial faço xixi amarelo fosforescente. Tô com medo de olhar para meu cocô. Chega desse desabafo escatológico!
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27 agosto 2008
..........................
É fogo! hoje acordei me sentindo mal, um peso. me arrastei para cumprir as obrigações diárias e saí por aí. gosto de ficar sozinha, na verdade nem comigo queria sair, queria era sair de dentro de mim. Vaguei um tempo pela Paulista com a esperança de derrubar o peso que estava atarrachado em minha alma na sarjeta, o que não aconteceu.
Entrei no cinema, mas não queria ver filme, fui até a cafeteria, comi um doce e me senti um pouco melhor, logo em seguida me senti mal, tontura, falta de ar... Já conheço este corpito que Deus me deu e comecei a respirar de um modo que eu sei que me acalma. Consegui melhorar, senti muito sono, tentei ler um livro que estava na minha bolsa, não consegui me concentrar. Pedi um chá para a moça, "que sabor" foi a pergunta dela: "de sumiço" eu respondi, mas pelo jeito estava em falta. Decidi assistir um filme, mais uma tentativa de amenizar o mal estar. Entrei na sala praticamente vazia, sentei e as lágrimas rolaram, que chatura! Pensei em como seria bom se o teto desabasse. Ao invés desta tragédia, que me deixaria em coma até o dia de minha morte, o filme começou e foi me envolvendo, dissipou um pouco dos sintomas da vaquilda da depressão. Espero acordar melhor amanhã...
Entrei no cinema, mas não queria ver filme, fui até a cafeteria, comi um doce e me senti um pouco melhor, logo em seguida me senti mal, tontura, falta de ar... Já conheço este corpito que Deus me deu e comecei a respirar de um modo que eu sei que me acalma. Consegui melhorar, senti muito sono, tentei ler um livro que estava na minha bolsa, não consegui me concentrar. Pedi um chá para a moça, "que sabor" foi a pergunta dela: "de sumiço" eu respondi, mas pelo jeito estava em falta. Decidi assistir um filme, mais uma tentativa de amenizar o mal estar. Entrei na sala praticamente vazia, sentei e as lágrimas rolaram, que chatura! Pensei em como seria bom se o teto desabasse. Ao invés desta tragédia, que me deixaria em coma até o dia de minha morte, o filme começou e foi me envolvendo, dissipou um pouco dos sintomas da vaquilda da depressão. Espero acordar melhor amanhã...
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26 agosto 2008
SUICÍDIO UM
Era oficial estava muito doente. Aos dezoito anos, caloura de uma boa faculdade (que não me interessava), família bela, amigos leais, situação financeira tranquila e saúde decadente. Para a dona depressão não interessa se você é macho ou fêmea, rico ou pobre (de espírito ou de bens), jovem ou velho, bom, ruim, enfim basta ser humano para ficar doente.
20 agosto 2008
AMAZÔNIA
Quando tinha uns 14 anos fiz amizade com um hippie que vendia bijuterias na praça da cidade. Ficava encantada com as histórias que ele me contava sobre sua vida de andarilho. Na verdade sentia até inveja daquele desprendimento dele com a vida tradicional.
Ele fazia o que dava na telha. Pensei em vários momentos em me tornar uma hippie, mas mal conseguia fazer um colar de miçangas. O tempo passou e quando estava na Faculdade só pensava em ir para Amazônia, me perder em outro universo. Viver outra vida, sem programações. Quando reencontrei o amigo hippie, lhe contei sobre o sonho amazônico, mas aquele sábio cabeludo aconselhou-me a me aventurar em meu próprio universo, viver a minha vida. Até hoje penso que a Amazônia teria sido mais fácil...
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16 agosto 2008
MINHA MÃE
Minha mãe, não se entristeça ao ler meus desabafos! Por mais difícil que esta minha condição seja esta doença só tem me fortalecido espiritualmente e me ensinado muito sobre a vida, a existência. Precisava transbordar minha alma na escrita, em algum lugar de acesso ao público, para me expor como sou, para parar de fingir, precisava fazer isto por mim!
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DROGA
Nunca usei drogas, sempre soube da minha forte tendência ao vício e compulsão, o que mantinha afastada até mesmo a curiosidade de experimentá-las. Como tudo tem sua primeira vez... Em um dos finais de semana que estava em Águas de São Pedro sozinha na minha república estudantil, simplesmente não me aguentava mais, a depressão estava me torturando. Lembro que fiquei assustada por ter ficado horas deitada no chão da sala chorando e de repente não tinha mais lágrimas!
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14 agosto 2008
EU ACEITO!
Ontem fui ao médico, ele é especializado em medicina chinesa, porque a tradicional não dá conta de mim. Quando cumprimentei a recepcionista notei que nunca a havia visto antes, perguntei a quanto tempo ela trabalhava no consultório e ela disse: "três anos.". Eu respondi: "impossível, era outra pessoa que estava aí quando eu vim aqui pela primeira vez."
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07 agosto 2008
CONFUSÃO
Fiquei um tempo em minha cidade natal testando tratamentos para depressão, estava com dezoito anos. Não me recordo quanto tempo fiquei lá, sei que não queria mais voltar para a Faculdade, na verdade não queria mais nada. Porém minha família que ainda não entendia a gravidade do assunto, achando que se tratava apenas de mais uma crise de aborrecente saindo da adolescência, me initimou a dar continuidade aos estudos, mesmo não havendo interesse em aplicá-los como profissão.
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VIDA É BRIGADEIRO
Adoro brigadeiro, muito muito muito! Sinto-me como se tivesse em minha frente uma caixa de brigadeirinhos de uma certa Chef que é capaz de cozinhar os melhores brigadeiros do mundo. Eu olho para eles, que vontade de me empanturrar desses docinhos, mas quando tento pegá-los eles se afastam. Assim como a caixa de brigadeiros a vida se afasta, é empurrada para longe pela depressão, gulosa que é, quer tudo para si. Era para estar bem, a vida se apresenta boa comigo e eu fico aqui fazendo uma força de Rambo para vivê-la. Difícil aceitar esta minha condição, que me segrega e me afunda dentro de mim.
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05 agosto 2008
TRATAMENTO
Após relutar muito em ligar para minha mãe para contar sobre a depressão, me dei por vencida. Ela junto com meu irmão foram me buscar em Águas de São Pedro. Na cidade natal fui à uma psiquiatra e iniciei terapia, não gostava, mas estava topando tudo para melhorar e assim iniciamos a busca pelo remédio adequado para a minha depressão, o qual demorou em torno de cinco anos para ser achado. Tomava um medicamento novo pelo tempo necessário, piorava, tinha reações adversas.
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04 agosto 2008
A DE AMIGO
Em algum lugar desta Terra belíssimamente estranha quando uma pessoa salva a vida da outra, a sobrevivente passa a servir seu salvador. Em junho de 2008, a pouco tempo, estava realmente péssima, havia escrito cartas de despedida em meu coração. Havia desistido da batalha, queria me livrar da matéria. Havia ido a uma reunião de trabalho com amigos somente para dizer um adeus silencioso, tudo já estava planejado, acredito que eles nem desconfiavam do que estava por vir, já que esta morbidez não é inerente a todos.
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02 agosto 2008
SOCORRO!
Com a descoberta da doença, passado o susto neguei minha condição, o que me fez me forçar a estar bem. Queria provar para mim mesma que podia reagir e vencer o desânimo, a tristeza, a angústia, a preguiça, o negativismo, a falta de concentração, o mal estar, etcetcetce, sem qualquer tipo de ajuda. Cortei o isolamento e me reaproximei das pessoas, fazia uma força gigantesca para não transparecer a alma sangrando, era uma boa atriz, mas a mim não enganava e o desespero me corroía, já que não me sentia nada bem.
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01 agosto 2008
Que saudade de uma época, um tempo que já não vivo mais. Agora no olho do furacão estou, tempo esquisito de temporal, e eu nem tive tempo de me esconder no porão. O vento me chacoalha e os destroços voam de encontro a mim. Na minha casa vejo sujeira e de tanta poeira a visão fica turva.
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VIAGEM
A alma confusa e agitada se rebela com a obrigação tal qual uma criança rebelde que contraria as ordens do pai. Ouça alma, fique tranqüila que o seu desejo será satisfeito porém após o seu feito. Tudo é troca, faça sua parte e a sua passagem que já está marcada será de primeira classe.
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Mortezinha
RIR PRA NÃO CHORAR
Na Faculdade, mesmo sabendo que aquela angústia aguda que recheava meu mal estar era depressão, continuava muito perdida e sofrendo horrores. Sentia um peso tão pesado na alma, o equivalente a um lutador balofo de sumô. Fazia duas semana que havia mudado com mais duas amigas para uma casa novinha com vista para uma lagoa, lá montamos nossa república batizada com nome de pinga.
31 julho 2008
TROPEÇO COMEÇO
Como as risadas e alegria alheia me irritavam causando profunda frustração e mais tristeza! Um dia estava tentando estar na Faculdade, era intervalo e ao me deparar com tantos jovens como eu vivendo suas vidas, rindo, comendo e interagindo fiquei pior do que já estava. Embarquei em uma fase intolerante comigo mesma, não me aguentava mais com tanto choro e drama.
30 julho 2008
MATAR AULA
Após alguns poucos meses de Faculdade, crises de choro repentinas e incontroláveis passaram a querer assistir as aulas comigo, porém com elas eu era obrigada a sair correndo porta afora. Estava muito confusa, não conseguia mais controlar meu próprio corpo! Dormia em quase todas as aulas, sono profundo que produzia babas.
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29 julho 2008
CARIDADE
A caridade em me aceitar mesmo com defeito tão gritante o qual não veio de fábrica, pois se assim fosse poderia reclamar e me devolver. Parece tão simples ser caridosa dessa maneira, apenas aceitando-me com depressão e acne, acredito que a coitada da pele é agredida pelas emoções, quem sabe para me chamar a atenção.
Porém "nem tudo o que parece é", e de simples esta aceitação nada tem. A depresão é minha gaiola e por mais que possa cantar fico limitada, por mais que queira voar o céu me foi confiscado e já enjoei de alpiste. Quem sabe aproveito este enjoamento e deixo de comer, assim fininha ficarei e poderei simplesmente me espremer por entre as grades, quando livre estiver me empanturrarei de brigadeiros com alegria para acompanhar e, sedenta, pedirei algumas doses de caridade para o meu coração. Como é bom voar...
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28 julho 2008
GOSTARIA...
Gostaria de acordar um dia me sentindo bem, como já me senti tantas outras vezes. Uma alegria da alma, uma gratidão por existir banhados por um ânimo de levantar da cama e viver!
Gostaria que depois desse dia outros viessem de igual entusiasmo e outros e outros... Gostaria de recuperar a saúde logo para não perder os encantos da vida, que por mais que me esforçe para enxergá-los meus olhos somente os mandam para o cerébro já que na alma não há reverberação. Mas mesmo assim meu cérebro insiste em contar para a alma que há beleza na existência e que as rosas são muito mais encantadoras do que os espinhos... Uma pena que cérebro e alma não estejam em sintonia, uma pena que ele ainda rejeite a própria tristeza e que minha alma seja alheia a genuina alegria.
26 julho 2008
BRANCO
Na faculdade vesti a máscara de "oi estou bem!" e fui para a nova vida. Morava em Águas de São Pedro, uma cidadezinha turística muito pequenina, tinha uns dois mil habitantes, natureza belíssima e águas fedidas para tratamentos de saúde variados. O local tinha uma atmosfera diferente, como diria meu irmão parecia a cidade daquele filme "o Show de Truman".
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24 julho 2008
O QUE ERA ISSO?
Em meio à minha depressão aos dezesseis anos me apaixonei. Naquela época não sabia ainda que a minha agústia crônica era doença. Um dia ouvi da razão da minha paixão que "depressão era coisa de rico", inconscientemente me afastei do moçoilo. Já sofria tanto comigo mesma que decidi esquecê-lo e para tanto mudei de cidade. Na estrada, olhos encobertos por óculos escuros chorei escondida, como de costume, porém com uma desculpa para o choro.
23 julho 2008
"PROVO QUE A MAIS ALTA EXPRESSÃO DA DOR CONSISTE ESSENCIALMENTE NA ALEGRIA"
AUGUSTO DOS ANJOS
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APOLOGIA
Busco distrações que me fixem aqui. Cuido da saúde, da pele, me envolvo nessas questões corporais e estéticas porque em um desses impulsos de despedida terrena olharei para a cútis tratada e imediatamente sentirei por fazer mal a ela, depois de tanto trabalho e dinheiro gasto. Busco distrações em assuntos que tanto me interessam para me esquecer um pouco de mim e dessa vontade tão enraizada de ir-me embora.
Busco distrações para poder passar o tempo, deixando a hora chegar naturalmente. Busco distrações porque é doloroso demais me encarar, esta suicida em potencial que tanta força faz para continuar na categoria "em potencial". Quando estava na faculdade e a dor crônica da alma era aguda fui ser voluntária em um asilo, assim me distraía de mim. Acabei sendo convidada a me retirar pela terapeuta que me alertou que eu precisava era cuidar de mim, me voluntariar em causa própria. Era menos penoso me dedicar aos velhinhos em sofrimento... Quantas coisas já fiz e faço para me manter aqui... E como me intriga saber que há grupos que fazem apologia à depressão! Seus membros não devem ter vaga idéia do que essa doença faz com seus escolhidos. Seria o mesmo que fazer apologia ao câncer! A ignorância às vezes é uma benção, noutras um veneno!
Busco distrações para poder passar o tempo, deixando a hora chegar naturalmente. Busco distrações porque é doloroso demais me encarar, esta suicida em potencial que tanta força faz para continuar na categoria "em potencial". Quando estava na faculdade e a dor crônica da alma era aguda fui ser voluntária em um asilo, assim me distraía de mim. Acabei sendo convidada a me retirar pela terapeuta que me alertou que eu precisava era cuidar de mim, me voluntariar em causa própria. Era menos penoso me dedicar aos velhinhos em sofrimento... Quantas coisas já fiz e faço para me manter aqui... E como me intriga saber que há grupos que fazem apologia à depressão! Seus membros não devem ter vaga idéia do que essa doença faz com seus escolhidos. Seria o mesmo que fazer apologia ao câncer! A ignorância às vezes é uma benção, noutras um veneno!
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22 julho 2008
DRAMALHÃO
Lembro-me que com pouca idade, uns oito anos, ficava penalizada ao ver o sofrimento alheio, às vezes inexistente para este alheio mas aos meus olhos...
Sentia muito pelas pessoas de classe social mais baixa que tinham que pegar ônibus, sofria pelas analfabetas, imaginava como seria uma vida sem perspectiva e sofria por seres que nem conhecia e que nem ao menos sabiam que aquela criança sentia algo por eles. Sofria ao constatar a crueza da vida, era o preço a se pagar por ser uma observadora infantil. Conforme fui crescendo, de idade porque de altura não cresci, esse sentimento de amargura foi se intensificando. Aos quinze anos por vontade própria fui estudar em escola estadual. Escondida chorava muito a todo momento e para justificar para mim mesma a razão de tantas lágrimas coloquei a culpa nos sofrimentos reais que presenciava na rede pública de ensino. Nesta época estava com uma viagem de família marcada e sentia tanta angústia que achei que eram maus presságios. Deduzi que morreria na estrada. Naquele tempo a morte me assustava...
Sentia muito pelas pessoas de classe social mais baixa que tinham que pegar ônibus, sofria pelas analfabetas, imaginava como seria uma vida sem perspectiva e sofria por seres que nem conhecia e que nem ao menos sabiam que aquela criança sentia algo por eles. Sofria ao constatar a crueza da vida, era o preço a se pagar por ser uma observadora infantil. Conforme fui crescendo, de idade porque de altura não cresci, esse sentimento de amargura foi se intensificando. Aos quinze anos por vontade própria fui estudar em escola estadual. Escondida chorava muito a todo momento e para justificar para mim mesma a razão de tantas lágrimas coloquei a culpa nos sofrimentos reais que presenciava na rede pública de ensino. Nesta época estava com uma viagem de família marcada e sentia tanta angústia que achei que eram maus presságios. Deduzi que morreria na estrada. Naquele tempo a morte me assustava...
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DISSE QUE FICA!
Ela ficou! Tomou um remédio conseguiu dormir, se reorganizou juntou forças e graças a Deus ainda está aqui. Extamente como eu. Quantas vezes decidi secamente assassinar este corpo que me obriga a viver aqui, mas diante de seres amados minha decisão se torna digna de reconsideração. Todo clichê é cansativo, mas realmente só entende o que um depressivo sente quem já passou por uma depressão.
19 julho 2008
ADEUS?
Hoje recebi um telefonema que poderia ter sido eu a fazê-lo. Tenho uma amiga de 43 anos que sofre de depressão a alguns anos e que no ano passado sofreu uma crise gravíssima que a deixou enclausurada, sem comer, sem chorar e falar por dias. Graças a um bom médico e medicação adequada e fortíssima ela melhorou. O efeito colateral do medicamento foi o ganho de alguns quilinhos em troca de ter recebido a vontade de viver de volta.
17 julho 2008
TERRA
Na época do ginásio me sentia tão mal que me isolava. Levava meu walk man no intervalo, Ipod era coisa só do James Bond, sentava em um canto bem escondida e ficava lá ouvindo minha angústia cantarolar. Tinha amigos que se aproximavam, às vezes levavam um pedaço de salgado da cantina, mas respeitavam o meu espírito ermitão. Eu simplesmente queria ficar só.
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15 julho 2008
BEBUM DE 12
Quando comecei a estudar de manhã, aos 12 anos, o despertador tocava as seis horas e eu levantava com muito sacrifício, o que é comum a quase todo ser humano obrigado a pular da cama a esta hora da manhã. O que não é normal é a sensação que me acompanhava todos os dias no momento do café da manhã: uma angústia, um peso, uma tristeza tãaaao triste. E eu lá sem saber lidar com aquilo, achando que era natural se sentir mal daquele jeito.
Tal situação cinzenta fez com que eu evitasse a escola. Pulava da cama, colocava o uniforme, tomava meu leite com nescau e canudinho, me escondia no closet atrás das roupas dependuradas, penduradas como a angústia em meu coraçãozinho pré adolecente e lá cochilava saindo somente depois que minha mãe já estava no trabalho. Implorava para a Neusa, a querida doméstica que cuidava do lar, que não contasse nada a ninguém. Acho que ela ficava com pena daquela criançona perdida e mantinha silêncio. Foi nessa época que comecei a beber água que passarinho não bebe, só borboletas errantes. Aos doze anos ficar bêbada era algo natural para mim. Não, não me tornei alcoólatra. Sim, bebia escondida, às vezes até na companhia das minhas irmãs mais velhas. "Oh, que horror!", algumas pessoas pensam. No entanto sentir uma tristeza dilacerante e crônica aos doze anos de idade é perdoável mas beber álcool...
FURACÃO ASSASSINA!
Alguns amigos sugeriram que eu mudasse o nome do blog. Entendo que assassina é um substantivo um pouco forte demais. Porém eu depressiva com certeza não estou no espírito de positivismo perante a vida e já são tantos anos enfrentando esta chata que não adianta mais tapar o sol com a peneira, tentei esta tática e acabei pegando um bronzeado desigual.
A realidade é crua para mim, tentar florear com palavras é completamente em vão. Porém acredito, por experiência própria, que esta assassina pode também ser para o bem. A depressão é uma assassina de mim. É um tornado, um furacão que vem me destruindo e eu insisto em me recostruir, mas entendi que este vento forte nunca me destruirá por inteiro, portanto não adianta levantar um palacete ornamentado de ouro, já que em breve ele será varrido e o que sobrará será apenas sua estrutura pura, simples.
13 julho 2008
CHORINHO NO BAILINHO
Tinha onze anos e fui a um bailinho, daqueles em que o menininho tirava a menininha para dançar e eles bailavam abraçadinhos até que um estraga prazer ou salvador viesse com a vassoura e interrompesse o casal, roubando a mocinha para dançar. Como amava os bailinhos! Até esse dia...
Estava tão bonitinha vestida de branco, com manchas de bolo de chocolate e brigadeiro espalhadas pelo vestidinho, umidecidas com guaraná. De repente lembro-me de sentir um nó na garganta, que ao se desfazer saiu em forma de choro descontrolado. Chorava por me sentir mal, como se alguém muito querido tivesse morrido, uma angústia, uma crise de tristeza aguda que me invadiu. Meus coleguinhas ficaram preocupados e me encheram de perguntas, mas diante da minha mudez chorosa eles simplesmente se calaram e me abraçaram. Queriam ligar para minha mãe, mas eu não sabia o que falaria e pedi que me deixassem acalmar. Eles respeitaram minha decisão e assim que melhorei a criançada praticamente exigiu uma explicação para tanta tristeza. Busquei no meu arquivo mental algo para justificar aquele estado angustiante e achei um fato que "agradaria" a todos, inclusive a mim: uma amiga, que me chamava de filhinha por ser da idade da minha mãe, estava com câncer. Só podia ser isso! Achado o motivo, todos se tornaram mais solidários e prometeram não contar nada para os adultos. Um alívio para mim. No dia seguinte estava tudo bem...
Estava tão bonitinha vestida de branco, com manchas de bolo de chocolate e brigadeiro espalhadas pelo vestidinho, umidecidas com guaraná. De repente lembro-me de sentir um nó na garganta, que ao se desfazer saiu em forma de choro descontrolado. Chorava por me sentir mal, como se alguém muito querido tivesse morrido, uma angústia, uma crise de tristeza aguda que me invadiu. Meus coleguinhas ficaram preocupados e me encheram de perguntas, mas diante da minha mudez chorosa eles simplesmente se calaram e me abraçaram. Queriam ligar para minha mãe, mas eu não sabia o que falaria e pedi que me deixassem acalmar. Eles respeitaram minha decisão e assim que melhorei a criançada praticamente exigiu uma explicação para tanta tristeza. Busquei no meu arquivo mental algo para justificar aquele estado angustiante e achei um fato que "agradaria" a todos, inclusive a mim: uma amiga, que me chamava de filhinha por ser da idade da minha mãe, estava com câncer. Só podia ser isso! Achado o motivo, todos se tornaram mais solidários e prometeram não contar nada para os adultos. Um alívio para mim. No dia seguinte estava tudo bem...
11 julho 2008
MINHA PRIMEIRA VEZ
Minha primeira vez foi com onze anos e na escola! Estava lá no recreio e mesmo com os Doritos da cantina me paquerando não tive vontade, como de costume, de ir até lá e comer um pacote acompanhado de refrigerante. Não, naquele dia não sentia vontade de nada e de não sentir ela chegou de sopetão: uma crise de choro incontrolável.
Chorei de não conseguir falar e fui parar na sala da diretora aos prantos conduzida por uma bedel. A diretora me distraiu, lembro-me de ter pintado minhas unhas com caneta esferográfica azul e as lágrimas, talvez assustadas diante de péssima manicure, cessaram. Voltei para a sala de aula como se nada tivesse acontecido e o filho da diretora disse: "sabia que ela melhorava com minha mãe, ela é meio psicóloga!". Sentei e acompanhei o resto das aulas, sem dar importância para o episódio do chororô. Em vão tentar ignorar aquela crise de choro descontrolada porque uma amiguinha e mais uns coleguinhas me lembravam dela de cinco em cinco segundos: queriam saber o motivo do choro. Eu mesma não sabia, mas diante de tantos curiosos me senti na obrigação de descobrir: "meu jovem primo havia sofrido acidente de carro e ficado tetraplégico". Uma história verídica, porém com mais de um ano de validade. E assim resolvi: havia ficado triste, angústia nem sabia o que era, devido a uma tragédia familiar de dois anos atrás. Esta foi minha primeira vez de crise depressiva, aos onze aninhos de idade, outra viria logo em seguida...
Chorei de não conseguir falar e fui parar na sala da diretora aos prantos conduzida por uma bedel. A diretora me distraiu, lembro-me de ter pintado minhas unhas com caneta esferográfica azul e as lágrimas, talvez assustadas diante de péssima manicure, cessaram. Voltei para a sala de aula como se nada tivesse acontecido e o filho da diretora disse: "sabia que ela melhorava com minha mãe, ela é meio psicóloga!". Sentei e acompanhei o resto das aulas, sem dar importância para o episódio do chororô. Em vão tentar ignorar aquela crise de choro descontrolada porque uma amiguinha e mais uns coleguinhas me lembravam dela de cinco em cinco segundos: queriam saber o motivo do choro. Eu mesma não sabia, mas diante de tantos curiosos me senti na obrigação de descobrir: "meu jovem primo havia sofrido acidente de carro e ficado tetraplégico". Uma história verídica, porém com mais de um ano de validade. E assim resolvi: havia ficado triste, angústia nem sabia o que era, devido a uma tragédia familiar de dois anos atrás. Esta foi minha primeira vez de crise depressiva, aos onze aninhos de idade, outra viria logo em seguida...
10 julho 2008
16 ANOS DE DEPRESSÃO
É... O mal do século XXI me abateu no século passado mesmo. Faz dezesseis anos que sofro de depressão, a própria: doença. Sim, dezesseis anos e fisicamente sou jovem ainda, tenho vinte e sete anos. Vou ajudar com a matemática, porque alguém pode sofrer do mal de se embananar na hora de fazer contas, como eu por exemplo, além de depressiva sou péssima com números!
Bom, a minha primeira crise depressiva veio me visitar quando eu tinha onze anos de idade e a partir de então não parou mais de aparecer, assim como as espinhas na minha face. Digamos então que graduei, pós graduei, fiz mestrado e hoje em dia sou doutora da minha depressão, esta assassina... Há tempos venho ensaiando para escrever sobre esta criminosa, mas a coragem me faltava. Porém de uns meses para cá em meio a tantas crises agudas, falta de compreensão e crescente no número de depressivos (xi números!) senti a necessidade de falar da minha historinha. Até tentei batizar este blog de "suicida sobrevivente", porém já existe um suicida sobrevivente tagarelando virtualmente, ainda bem! Um a mais! Ao menos a depressão assassina está sob minha custódia!
Bom, a minha primeira crise depressiva veio me visitar quando eu tinha onze anos de idade e a partir de então não parou mais de aparecer, assim como as espinhas na minha face. Digamos então que graduei, pós graduei, fiz mestrado e hoje em dia sou doutora da minha depressão, esta assassina... Há tempos venho ensaiando para escrever sobre esta criminosa, mas a coragem me faltava. Porém de uns meses para cá em meio a tantas crises agudas, falta de compreensão e crescente no número de depressivos (xi números!) senti a necessidade de falar da minha historinha. Até tentei batizar este blog de "suicida sobrevivente", porém já existe um suicida sobrevivente tagarelando virtualmente, ainda bem! Um a mais! Ao menos a depressão assassina está sob minha custódia!
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