02 agosto 2008

SOCORRO!

Com a descoberta da doença, passado o susto neguei minha condição, o que me fez me forçar a estar bem. Queria provar para mim mesma que podia reagir e vencer o desânimo, a tristeza, a angústia, a preguiça, o negativismo, a falta de concentração, o mal estar, etcetcetce, sem qualquer tipo de ajuda. Cortei o isolamento e me reaproximei das pessoas, fazia uma força gigantesca para não transparecer a alma sangrando, era uma boa atriz, mas a mim não enganava e o desespero me corroía, já que não me sentia nada bem.
 Uma noite em uma festa da Faculdade, em que queria provar para mim mesma que estava ótima, me forcei tanto que meu corpo não aguentou, acabei por ter um chilique. Saí correndo do lugar aos prantos e uma amiga saiu atrás de mim. Ela mesmo sem saber dirigir direito assumiu o volante. Eu estava sem ar, tremendo e soluçando, provavelmente babando também. No caminho ela parou em um orelhão, celular ainda era artigo de luxo, esperou eu me acalmar e me fez ligar para minha mãe. Não me lembro ao certo dessa conversa tão adiada, mas lembro que senti vergonha de mim mesma por estar doente e por trazer preocupação à minha mãe amada. Quando tinha uns cinco e era uma criança alegre fui a um hotel fazenda com minhas três irmâs, todas mais velhas que eu, assim como meu irmão. Minha avó materna e minha mãe nos levaram em tal aventura. Um dia brincava em um escorregador daqueles que não são só para escorregar e sim feitos de toras de madeira, com rede de escalada que ao chegar no topo é possível até pular amarelinha de tanto espaço disponível. Era tão pequenina e estava sozinha brincando que a impressão que tenho é que estava a uns cinco metros do chão. Minha mãe estava sentada em um banco próxima do brinquedo. Eu estava lá em cima concentrada na minha brincadeira quando ouvi um grito rouco masculino que me chamou a atenção. Levantei a cabeça e o que vi foi literalmente um homem das cavernas com tacape e tudo descendo a ladeira, um pouco longe do parquinho. Quando ele me viu, parou e grunhiu bem alto. Morri de medo e sem titubear pulei de cima do brinquedo, o qual era relativamente alto para uma criança de cinco anos e gritei: "Socorro mãe!", corri e me afundei em seu colo, sem sequer olhar para aquele monstrengo que nada mais era que um instrutor de lazer. Eles têm esse dom de judiar das criancinhas, já fui monitora de lazer também, mas nunca consegui a proeza que aquele horripilante trabalhador desempenhou. Treze anos depois estava fazendo o mesmo, com a diferença de que foi preciso uma amiga me empurrar já que meu homem das cavernas a assustou.

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