19 julho 2008

ADEUS?

Hoje recebi um telefonema que poderia ter sido eu a fazê-lo. Tenho uma amiga de 43 anos que sofre de depressão a alguns anos e que no ano passado sofreu uma crise gravíssima que a deixou enclausurada, sem comer, sem chorar e falar por dias. Graças a um bom médico e medicação adequada e fortíssima ela melhorou. O efeito colateral do medicamento foi o ganho de alguns quilinhos em troca de ter recebido a vontade de viver de volta.
 Até sofrer algumas maldades na pele, o que a levou de volta ao poço. Ela, não tendo família, nem filhos, ou seja nada que a prenda nesta Terra, que lhe tem sido tão ingrata, me ligou hoje para dizer adeus. Um adeus que eu gostaria de estar dando... Um adeus do qual conversamos muito quando estávamos melhor e em uma dessas conversas pedi que se um dia ela decidisse pelo suicídio que me avisasse. Ela cumpriu sua palavra e eu fiquei tão triste e brava ao ouvir sua decisão que nem eu me reconheci. Ela dizia que ia deixar este mundo e eu a acusei de não ter nem a decência de ser explícita e dizer que ela se mataria, que se ela fizesse isto eu nunca a perdoaria, que este mundo precisa de pessoas boas como ela, porque se de fato ela se suicidasse a minha esperança seria em muito abalada e a minha força minada. Pedi a ela que esperasse, que se despedisse pessoalmente e ela prometeu reconsiderar, mas logo em seguida disse que não aguentava mais, que era muita dor. Uma dor que eu sei exatamente como é... O telefonema me balançou por demais. No momento eu estou em tratamento para amenizar os sintomas da depressão e o suicídio é o pensamento mais recorrente, mas por saber e sentir coisas que só posso acreditar chorando adio a minha partida, com a certeza de que ela virá tanto para mim como para qualquer ser vivo do planeta, é só uma questão de tempo. Mas esta sou eu e a minha amiga tem uma outra vivência. Ela me disse que é só, não tem filhos, o marido que teve foi terrível para ela, amigos a traíram, foi incompreendida e julgada e pouquíssimas pessoas a receberam com carinho e amor. É isto! Até quando as pessoas vão andar por aí com os corações endurecidos até quando os bons em desânimo serão ignorados, até quando? Até quando um carinho será negado, até quando um sermão será proferido ao invés de um simples abraço, até quando a grosseria roubará o lugar da gentileza, até quando a racionalização lutará com o coração? Até quando a cegueira? Até quando a futilidade irá imperar resultando nos vazios existenciais? Até quando a humanidade odiará a sua própia espécie? Seremos todos suicidados algum dia pela natureza da vida, portanto o que custa ser uma pessoa mais amorosa? Que minha amiga tenha força e receba meu amor e sinta minhas preces e decida por ficar e lute, a luta dela. Que a minha dor seja amenizada e que eu não tenha nunca mais que escrever cartas de despedidas, já que não gosto de telefone. A você minha amiga amada e saiba que mesmo que decida pela partida eu a compreendo e te respeito. Você é uma guerreira, honesta e íntegra que tive a sorte de conhecer! Vou torcer para que você me ligue e que a gente tenha a chance de sentar naquela confeitaria deliciosa para comer vários brigadeiros até sair de lá enjoadas como de costume...

Nenhum comentário: