17 julho 2008

TERRA

Na época do ginásio me sentia tão mal que me isolava. Levava meu walk man no intervalo, Ipod era coisa só do James Bond, sentava em um canto bem escondida e ficava lá ouvindo minha angústia cantarolar. Tinha amigos que se aproximavam, às vezes levavam um pedaço de salgado da cantina, mas respeitavam o meu espírito ermitão. Eu simplesmente queria ficar só.
 Isto começou aos doze anos de idade quando rompi com um grupo de amigas porque simplesmente não suportava mais. O quê ao certo não sei. Só sei que sempre me senti um peixe fora dágua, um ET tristonho que a nave mãe desistiu de acolher. Sempre observava muito tudo, e em seguida as críticas se formulavam. No ambiente escolar não era diferente. Estar neste ambiente era uma tortura! Quando chegava domingo e ouvia aquela música linda "Terra" que Caetano cantava na abertura do programa da TV Cultura de mesmo nome, me sentia tão mal como se algo estivesse arrancando meu coração pelo umbigo! Durante anos fiquei com trauma dessa canção. Quem já perdeu um ente querido recorde da dor, da tristeza, angústia, saudade, desespero, etcetcetc. Era mais ou menos isso que sentia. Como se fosse um pressentimento ruim, que na verdade era só sentimento mesmo, encalacrado. Esses picos de angústia aconteciam ao anoitecer e ao amanhecer. Meu Deus que de relembrar da dor que sentia ao assistir o belo pôr do sol, de uma vista privilegiada da copa de casa, meus olhos já se enchem de lágrimas... Da onde vinha tanta tristeza aos treze anos? Ela me impedia de ter uma vida social. Enquanto minhas amigas me ligavam para sair e minhas irmãs me convidavam para espairecer eu preferia ficar só, sentada na janela do meu quarto. Nessa época comprava bombinhas * de festa junina e atirava-as na varanda ou simplesmente ia até a garagem me deitar para contemplar as estrelas e chorar em paz, ou melhor, em guerra, porque dentro de mim era um turbilhão... *bombinhas de festa junina: minha sobrinha me disse que hoje em dia elas são chamadas de traque (sei lá como se escreve, traque para mim são aquelas bolotinhas de papel que a gente joga no chão e elas explodem. É como depressão, para alguns é doença e para outros apenas um estado emocional).

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