CAOS DA VOLTA

Após dois anos em Londres retornei para o Brasil, estava com 24 anos. Voltei decidida a ir atrás do meu sonho profissional de criança: trabalhar com cinema, roteiros principalmente. Acredito também que desde sempre quis ser atriz, mas como era do interior, cidade provinciana, sempre ouvia tantos mitos a respeito da profissão que acho que acabei por sentir vergonha de admitir que queria ser algo tão artístico. Bom, meu retorno para as terras brasileiras foi, digamos, um pouco traumático.
Primeiro porque não queria muito voltar, mas não podia mais renovar meu visto; segundo que estava deixando meu porto seguro na Inglaterra, meu namorado que me dava tanto suporte durante as crises agudas de depressão resolvera ficar lá e tentar outro visto. Resultado: chorei do aeroporto inglês até aterrisar no Brasil, umas doze horas seguidas. Chegando aqui reencontrei a família, o que me distraiu da minha saudade londrina. Em casa mais "distrações", meu cachorro doberman foférrimo estava com nove anos, apresentava problema nas patas traseiras, estava velhinho, muito diferente do super cão do qual havia me despedido dois anos antes. Após uma semana no Brasil estava sozinha em casa, era umas nove da noite, meu caozinho começou a passar mal. Não tinha telefone de veterinário, desesperadamente fiquei ao lado do coitadinho até as cinco da manhã quando ele teve uma convulsão e morreu no meu colo. Chorei uma semana seguida. Ele era muito meu amigo que também me dava apoio nas minhas crises depressivas, ele me alegrava e eu amava aquele cachorro demais. Foi uma perda e tanto que era amenizada pela mudança da casa que vivi por dezesseis anos, a casa da infância. Era tanta tralha para empacotar que chorava pelo meu cão em meio ao pó. Minha mãe havia vivido uns 26 anos naquela casa, era tranquera que não acabava mais. Quando fui arrumar a despensa achei até ratoeiras enferrujadas com umas bolotinhas verdes na ponta, ao menos ria no meio daquele caos interno e externo. Sem saber ao certo o que fazia aqui...