Em meio à minha depressão aos dezesseis anos me apaixonei. Naquela época não sabia ainda que a minha agústia crônica era doença. Um dia ouvi da razão da minha paixão que "depressão era coisa de rico", inconscientemente me afastei do moçoilo. Já sofria tanto comigo mesma que decidi esquecê-lo e para tanto mudei de cidade. Na estrada, olhos encobertos por óculos escuros chorei escondida, como de costume, porém com uma desculpa para o choro.
Aliás me surpreendi quando perguntei a algumas pessoas se elas choravam todo dia, e a resposta foi negativa. Eu chorava a todo momento, lágrimas frouxas doidas para rolarem, muitas vezes sem motivo algum, aliás sempre procurava um para justificar o pranto. Na nova cidade, Curitiba, fiz planos em minha cabeça de ir trabalhar, fazer cursos e aproveitar a estrutura que uma cidade grande oferecia. Em vão, não conseguia nem levantar da cama para ir à aula. Queria ter disposição e me sentia culpada por ser preguiçosa, já que de fato não cumpria o que me propunha. No cursinho as aulas eram excelentes e por mais força que fizesse para assisti-las mesmo quando estava lá de corpo presente acabava por adormecer. Sentia um torpor, um desânimo, comia muito como a Magali da Turma da Mônica e assim como ela continuava magricela, fumava muito, bebia muito, dormia demais, chorava em excesso, não conseguia me concentrar, me sentia mal, mas ainda assim achava que era apenas uma má fase... E claro escondia de todos o que se passava comigo, achava que era fraqueza e que o bonito era ser forte, mesmo que para tanto precisasse fingir. Uma vez, observando a lua linda, sempre amei a lua, escrevi um poema, a escrita sempre foi minha válvula de escape. Este poema provavelmente joguei fora, me lembro da sensação daquele momento: angústia, falta de perspectiva, desesperança, todos sentimentos que não combinavam com a minha realidade, mas que estavam lá me sufocando. Podia enganar aos outros mas a intensidade do que sentia não me permitia mentir para mim mesma. Na época do vestibular já estava parecendo um zumbi sem muita vontade própria. Queria fazer um curso, mas não tive apoio. Já estava me sentindo tão mal, sem forças para me impor ou me abrir que não me importei muito de prestar outras coisas. Na verdade fiz inscrição para algumas faculdades, mas só fiz as provas de uma. Simplesmente estava à parte do mundo. Na época do vestibular estava péssima, acabei adoecendo fisicamente. Ufa! Dessa vez era algo visível no físico. Tive uma tal de mononucleose e fiquei aliviada, pelo menos estava "doente de verdade". Assim ninguém me cobraria muito, e eu me esqueceria de mim por um tempo. Quando recebi a notícia de que havia passado no vestibular não senti absolutamente nada. Havia me trasnformado de vez em um zumbi que ainda tinha um restinho de consciência. Na faculdade descobri que o inferno era eu!
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