03 setembro 2008

SUICÍDIO DOIS

Tem ficado cada vez mais difícil continuar este desbravamento pela minha história da depressão. E ainda há tanto que preciso relatar, ou melhor, desabafar... Dezenove anos, segundo ano de faculdade. Estava no intervalo da aula deitada em uma mureta, ardia em febre e tinha a angústia grudada na barra da minha calça, a puxá-la de modo bastante irritante. Fingia estar tudo bem porque não queria levantar suspeitas, mas já havia decidido sair de fininho, não queria a tropa da amizade atrás de mim.
imagem do site: http://4dumbies.wordpress.com/ 
Cheguei no quartinho de hotel em que estava morando, tranquei a porta e só me lembro da sensação de querer voar para bem longe de mim. Deixei tudo fechado e a luz apagada para não denunciar minha presença, o carro havia estacionado em uma ruazinha paralela a do hotel. Em um rompante de puro desespero peguei um copo americano, corri para o banheiro e quebrei-o no bidê. Comecei a me cortar, na verdade fiz um corte minúsculo em meu pulso que logo sangrou, sendo o suficiente para me apagar. É que sempre tive pavor de sangue, quando cursava o colegial meu professor de biologia me permitia esperar fora da sala porque dependendo do assunto passava mal, sentia fraqueza nas pernas e frio nos ossos, morria de aflição de ouvir minha pulsação e de pensar que havia órgãos dentro do meu corpo. Portanto quando vi aquele sangue super vermelho pingando no chão, talvez embalada pela alucinação da febre, não aguentei, desmaiei. Acordei em uma sala bem clara, deitada em uma maca, não enxergava nem ouvia direito, vi um moço de branco se aproximar balbuciei se tinha morrido, ele sorriu, eu chorei. Não era possível que não conseguia nem morrer! Fiquei irritada, ele injetou algo no meu braço. Via muitas pessoas rindo e conversando, tudo muito confuso e eu péssima! Quando de fato acordei estava no meu quarto de hotel deitada na cama, um curativo pequeno no meu pulso, uma dor no braço, a TV ligada no Chavez e este amigo se empanturrando de chocolate. Ele simplesmente olhou para mim, mas o Chavez estava tão interessante que logo ele voltou sua atenção para o seriado. Nunca falamos no assunto, depois desta micro tentativa voltei a assistir Chavez.

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