Tinha onze anos e fui a um bailinho, daqueles em que o menininho tirava a menininha para dançar e eles bailavam abraçadinhos até que um estraga prazer ou salvador viesse com a vassoura e interrompesse o casal, roubando a mocinha para dançar. Como amava os bailinhos! Até esse dia...
Estava tão bonitinha vestida de branco, com manchas de bolo de chocolate e brigadeiro espalhadas pelo vestidinho, umidecidas com guaraná. De repente lembro-me de sentir um nó na garganta, que ao se desfazer saiu em forma de choro descontrolado. Chorava por me sentir mal, como se alguém muito querido tivesse morrido, uma angústia, uma crise de tristeza aguda que me invadiu. Meus coleguinhas ficaram preocupados e me encheram de perguntas, mas diante da minha mudez chorosa eles simplesmente se calaram e me abraçaram. Queriam ligar para minha mãe, mas eu não sabia o que falaria e pedi que me deixassem acalmar. Eles respeitaram minha decisão e assim que melhorei a criançada praticamente exigiu uma explicação para tanta tristeza. Busquei no meu arquivo mental algo para justificar aquele estado angustiante e achei um fato que "agradaria" a todos, inclusive a mim: uma amiga, que me chamava de filhinha por ser da idade da minha mãe, estava com câncer. Só podia ser isso! Achado o motivo, todos se tornaram mais solidários e prometeram não contar nada para os adultos. Um alívio para mim. No dia seguinte estava tudo bem...
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