31 julho 2008

TROPEÇO COMEÇO

Como as risadas e alegria alheia me irritavam causando profunda frustração e mais tristeza! Um dia estava tentando estar na Faculdade, era intervalo e ao me deparar com tantos jovens como eu vivendo suas vidas, rindo, comendo e interagindo fiquei pior do que já estava. Embarquei em uma fase intolerante comigo mesma, não me aguentava mais com tanto choro e drama.

30 julho 2008

MATAR AULA

Após alguns poucos meses de Faculdade, crises de choro repentinas e incontroláveis passaram a querer assistir as aulas comigo, porém com elas eu era obrigada a sair correndo porta afora. Estava muito confusa, não conseguia mais controlar meu próprio corpo! Dormia em quase todas as aulas, sono profundo que produzia babas.

29 julho 2008

CARIDADE


A caridade em me aceitar mesmo com defeito tão gritante o qual não veio de fábrica, pois se assim fosse poderia reclamar e me devolver. Parece tão simples ser caridosa dessa maneira, apenas aceitando-me com depressão e acne, acredito que a coitada da pele é agredida pelas emoções, quem sabe para me chamar a atenção.
Porém "nem tudo o que parece é", e de simples esta aceitação nada tem. A depresão é minha gaiola e por mais que possa cantar fico limitada, por mais que queira voar o céu me foi confiscado e já enjoei de alpiste. Quem sabe aproveito este enjoamento e deixo de comer, assim fininha ficarei e poderei simplesmente me espremer por entre as grades, quando livre estiver me empanturrarei de brigadeiros com alegria para acompanhar e, sedenta, pedirei algumas doses de caridade para o meu coração. Como é bom voar...

28 julho 2008


"CRIAR NÃO É IMAGINAÇÃO, É A GRANDEZA DE SE TER A REALIDADE"                                                                                     
                                                                                                             (CLARICE LISPECTOR)

GOSTARIA...


Gostaria de acordar um dia me sentindo bem, como já me senti tantas outras vezes. Uma alegria da alma, uma gratidão por existir banhados por um ânimo de levantar da cama e viver!
Gostaria que depois desse dia outros viessem de igual entusiasmo e outros e outros... Gostaria de recuperar a saúde logo para não perder os encantos da vida, que por mais que me esforçe para enxergá-los meus olhos somente os mandam para o cerébro já que na alma não há reverberação. Mas mesmo assim meu cérebro insiste em contar para a alma que há beleza na existência e que as rosas são muito mais encantadoras do que os espinhos... Uma pena que cérebro e alma não estejam em sintonia, uma pena que ele ainda rejeite a própria tristeza e que minha alma seja alheia a genuina alegria.

26 julho 2008

BRANCO

Na faculdade vesti a máscara de "oi estou bem!" e fui para a nova vida. Morava em Águas de São Pedro, uma cidadezinha turística muito pequenina, tinha uns dois mil habitantes, natureza belíssima e águas fedidas para tratamentos de saúde variados. O local tinha uma atmosfera diferente, como diria meu irmão parecia a cidade daquele filme "o Show de Truman".

24 julho 2008

O QUE ERA ISSO?

Em meio à minha depressão aos dezesseis anos me apaixonei. Naquela época não sabia ainda que a minha agústia crônica era doença. Um dia ouvi da razão da minha paixão que "depressão era coisa de rico", inconscientemente me afastei do moçoilo. Já sofria tanto comigo mesma que decidi esquecê-lo e para tanto mudei de cidade. Na estrada, olhos encobertos por óculos escuros chorei escondida, como de costume, porém com uma desculpa para o choro.

23 julho 2008


"PROVO QUE A MAIS ALTA EXPRESSÃO DA DOR CONSISTE ESSENCIALMENTE NA ALEGRIA"

                         AUGUSTO DOS ANJOS

APOLOGIA

Busco distrações que me fixem aqui. Cuido da saúde, da pele, me envolvo nessas questões corporais e estéticas porque em um desses impulsos de despedida terrena olharei para a cútis tratada e imediatamente sentirei por fazer mal a ela, depois de tanto trabalho e dinheiro gasto. Busco distrações em assuntos que tanto me interessam para me esquecer um pouco de mim e dessa vontade tão enraizada de ir-me embora.
Busco distrações para poder passar o tempo, deixando a hora chegar naturalmente. Busco distrações porque é doloroso demais me encarar, esta suicida em potencial que tanta força faz para continuar na categoria "em potencial". Quando estava na faculdade e a dor crônica da alma era aguda fui ser voluntária em um asilo, assim me distraía de mim. Acabei sendo convidada a me retirar pela terapeuta que me alertou que eu precisava era cuidar de mim, me voluntariar em causa própria. Era menos penoso me dedicar aos velhinhos em sofrimento... Quantas coisas já fiz e faço para me manter aqui... E como me intriga saber que há grupos que fazem apologia à depressão! Seus membros não devem ter vaga idéia do que essa doença faz com seus escolhidos. Seria o mesmo que fazer apologia ao câncer! A ignorância às vezes é uma benção, noutras um veneno!

22 julho 2008

DRAMALHÃO

Lembro-me que com pouca idade, uns oito anos, ficava penalizada ao ver o sofrimento alheio, às vezes inexistente para este alheio mas aos meus olhos...
Sentia muito pelas pessoas de classe social mais baixa que tinham que pegar ônibus, sofria pelas analfabetas, imaginava como seria uma vida sem perspectiva e sofria por seres que nem conhecia e que nem ao menos sabiam que aquela criança sentia algo por eles. Sofria ao constatar a crueza da vida, era o preço a se pagar por ser uma observadora infantil. Conforme fui crescendo, de idade porque de altura não cresci, esse sentimento de amargura foi se intensificando. Aos quinze anos por vontade própria fui estudar em escola estadual. Escondida chorava muito a todo momento e para justificar para mim mesma a razão de tantas lágrimas coloquei a culpa nos sofrimentos reais que presenciava na rede pública de ensino. Nesta época estava com uma viagem de família marcada e sentia tanta angústia que achei que eram maus presságios. Deduzi que morreria na estrada. Naquele tempo a morte me assustava...

DISSE QUE FICA!

Ela ficou! Tomou um remédio conseguiu dormir, se reorganizou juntou forças e graças a Deus ainda está aqui. Extamente como eu. Quantas vezes decidi secamente assassinar este corpo que me obriga a viver aqui, mas diante de seres amados minha decisão se torna digna de reconsideração. Todo clichê é cansativo, mas realmente só entende o que um depressivo sente quem já passou por uma depressão.

19 julho 2008

ADEUS?

Hoje recebi um telefonema que poderia ter sido eu a fazê-lo. Tenho uma amiga de 43 anos que sofre de depressão a alguns anos e que no ano passado sofreu uma crise gravíssima que a deixou enclausurada, sem comer, sem chorar e falar por dias. Graças a um bom médico e medicação adequada e fortíssima ela melhorou. O efeito colateral do medicamento foi o ganho de alguns quilinhos em troca de ter recebido a vontade de viver de volta.

17 julho 2008

TERRA

Na época do ginásio me sentia tão mal que me isolava. Levava meu walk man no intervalo, Ipod era coisa só do James Bond, sentava em um canto bem escondida e ficava lá ouvindo minha angústia cantarolar. Tinha amigos que se aproximavam, às vezes levavam um pedaço de salgado da cantina, mas respeitavam o meu espírito ermitão. Eu simplesmente queria ficar só.

15 julho 2008

BEBUM DE 12


Quando comecei a estudar de manhã, aos 12 anos, o despertador tocava as seis horas e eu levantava com muito sacrifício, o que é comum a quase todo ser humano obrigado a pular da cama a esta hora da manhã. O que não é normal é a sensação que me acompanhava todos os dias no momento do café da manhã: uma angústia, um peso, uma tristeza tãaaao triste. E eu lá sem saber lidar com aquilo, achando que era natural se sentir mal daquele jeito.
 Tal situação cinzenta fez com que eu evitasse a escola. Pulava da cama, colocava o uniforme, tomava meu leite com nescau e canudinho, me escondia no closet atrás das roupas dependuradas, penduradas como a angústia em meu coraçãozinho pré adolecente e lá cochilava saindo somente depois que minha mãe já estava no trabalho. Implorava para a Neusa, a querida doméstica que cuidava do lar, que não contasse nada a ninguém. Acho que ela ficava com pena daquela criançona perdida e mantinha silêncio. Foi nessa época que comecei a beber água que passarinho não bebe, só borboletas errantes. Aos doze anos ficar bêbada era algo natural para mim. Não, não me tornei alcoólatra. Sim, bebia escondida, às vezes até na companhia das minhas irmãs mais velhas. "Oh, que horror!", algumas pessoas pensam. No entanto sentir uma tristeza dilacerante e crônica aos doze anos de idade é perdoável mas beber álcool...

FURACÃO ASSASSINA!


Alguns amigos sugeriram que eu mudasse o nome do blog. Entendo que assassina é um substantivo um pouco forte demais. Porém eu depressiva com certeza não estou no espírito de positivismo perante a vida e já são tantos anos enfrentando esta chata que não adianta mais tapar o sol com a peneira, tentei esta tática e acabei pegando um bronzeado desigual.
A realidade é crua para mim, tentar florear com palavras é completamente em vão. Porém acredito, por experiência própria, que esta assassina pode também ser para o bem. A depressão é uma assassina de mim. É um tornado, um furacão que vem me destruindo e eu insisto em me recostruir, mas entendi que este vento forte nunca me destruirá por inteiro, portanto não adianta levantar um palacete ornamentado de ouro, já que em breve ele será varrido e o que sobrará será apenas sua estrutura pura, simples.

13 julho 2008

CHORINHO NO BAILINHO

Tinha onze anos e fui a um bailinho, daqueles em que o menininho tirava a menininha para dançar e eles bailavam abraçadinhos até que um estraga prazer ou salvador viesse com a vassoura e interrompesse o casal, roubando a mocinha para dançar. Como amava os bailinhos! Até esse dia...
Estava tão bonitinha vestida de branco, com manchas de bolo de chocolate e brigadeiro espalhadas pelo vestidinho, umidecidas com guaraná. De repente lembro-me de sentir um nó na garganta, que ao se desfazer saiu em forma de choro descontrolado. Chorava por me sentir mal, como se alguém muito querido tivesse morrido, uma angústia, uma crise de tristeza aguda que me invadiu. Meus coleguinhas ficaram preocupados e me encheram de perguntas, mas diante da minha mudez chorosa eles simplesmente se calaram e me abraçaram. Queriam ligar para minha mãe, mas eu não sabia o que falaria e pedi que me deixassem acalmar. Eles respeitaram minha decisão e assim que melhorei a criançada praticamente exigiu uma explicação para tanta tristeza. Busquei no meu arquivo mental algo para justificar aquele estado angustiante e achei um fato que "agradaria" a todos, inclusive a mim: uma amiga, que me chamava de filhinha por ser da idade da minha mãe, estava com câncer. Só podia ser isso! Achado o motivo, todos se tornaram mais solidários e prometeram não contar nada para os adultos. Um alívio para mim. No dia seguinte estava tudo bem...

11 julho 2008

MINHA PRIMEIRA VEZ

Minha primeira vez foi com onze anos e na escola! Estava lá no recreio e mesmo com os Doritos da cantina me paquerando não tive vontade, como de costume, de ir até lá e comer um pacote acompanhado de refrigerante. Não, naquele dia não sentia vontade de nada e de não sentir ela chegou de sopetão: uma crise de choro incontrolável.
Chorei de não conseguir falar e fui parar na sala da diretora aos prantos conduzida por uma bedel. A diretora me distraiu, lembro-me de ter pintado minhas unhas com caneta esferográfica azul e as lágrimas, talvez assustadas diante de péssima manicure, cessaram. Voltei para a sala de aula como se nada tivesse acontecido e o filho da diretora disse: "sabia que ela melhorava com minha mãe, ela é meio psicóloga!". Sentei e acompanhei o resto das aulas, sem dar importância para o episódio do chororô. Em vão tentar ignorar aquela crise de choro descontrolada porque uma amiguinha e mais uns coleguinhas me lembravam dela de cinco em cinco segundos: queriam saber o motivo do choro. Eu mesma não sabia, mas diante de tantos curiosos me senti na obrigação de descobrir: "meu jovem primo havia sofrido acidente de carro e ficado tetraplégico". Uma história verídica, porém com mais de um ano de validade. E assim resolvi: havia ficado triste, angústia nem sabia o que era, devido a uma tragédia familiar de dois anos atrás. Esta foi minha primeira vez de crise depressiva, aos onze aninhos de idade, outra viria logo em seguida...

10 julho 2008

16 ANOS DE DEPRESSÃO

É... O mal do século XXI me abateu no século passado mesmo. Faz dezesseis anos que sofro de depressão, a própria: doença. Sim, dezesseis anos e fisicamente sou jovem ainda, tenho vinte e sete anos. Vou ajudar com a matemática, porque alguém pode sofrer do mal de se embananar na hora de fazer contas, como eu por exemplo, além de depressiva sou péssima com números!
Bom, a minha primeira crise depressiva veio me visitar quando eu tinha onze anos de idade e a partir de então não parou mais de aparecer, assim como as espinhas na minha face. Digamos então que graduei, pós graduei, fiz mestrado e hoje em dia sou doutora da minha depressão, esta assassina... Há tempos venho ensaiando para escrever sobre esta criminosa, mas a coragem me faltava. Porém de uns meses para cá em meio a tantas crises agudas, falta de compreensão e crescente no número de depressivos (xi números!) senti a necessidade de falar da minha historinha. Até tentei batizar este blog de "suicida sobrevivente", porém já existe um suicida sobrevivente tagarelando virtualmente, ainda bem! Um a mais! Ao menos a depressão assassina está sob minha custódia!