"Traduzi um trecho de um livro do maravilhoso Boris Cyrulnik, que é neuro-psiquiatra, etologo e psicanalista françês, ele desenvolveu o conceito de resiliência (renascer do seu sofrimento) e sua propria história é um exemplo de resiliência: da sua infância durante a ocupação alemã na França, onde ele perdeu os pais cedo, deportados, e viveu se escondendo e fugindo com a ajuda de uma mulher e uma enfermeira em periodos diferentes. Depois, foi ajudado por uma rede de solidaridade da resistência francesa: mudaram o nome dele e o esconderam até a chegada do dia da Liberação. Depois disso ele foi acolhido e educado por uma tia em Paris."
"Efeito biológico da palavra" (do livro "De carne e de alma" de Boris Cyrulnik, Editions Odile Jacob, 2006)
"O efeito afetivo da palavra, acarretando emoções de tristeza, de alegria, de surpresa ou de tranquilização, induz também a modificações biológicas.
Trinta pacientes foram submetidos a uma ressonânia magnética (I.R.M) ao longo de sua depressão, e a um controle após um ano de evolução. No momento da depressão não havia diferença entre os hipocampos das pessoas adoecidas e um grupo testemunha de trinta pessoas felizes. Por outro lado, "um ano depois, aqueles que ainda sofriam tiveram uma redução significativa das células de seus hipocampos" (1), sendo que aqueles que haviam falado e por vezes tomado remédios não revelaram atrofia.
A interpretação biológica e psicológica destas imagens é hoje possivel: aqueles que sofreram sem poder controlar suas emoções, secretaram muito cortisol de maneira crônica. As paredes das células hipocâmpicas, muito sensiveis a esta substância, se tornaram edemáticas. Os canais dilatados da parede deixaram entrar cálcio demais que, invertendo o gradiente iônico, inchou as células até a explosão.
Ao oposto, aqueles que controlaram a emoção com ajuda de um psicoterapeuta ou de um remédio, fazendo narrações e teorias para tentar analisar as razões de seu sofrimento, sem ruminar, quer dizer, tomando uma distância e estabelecendo uma relação afetiva com um outro, aprenderam a controlar seu mal-estar, pouco a pouco, palavra por palavra, afeto após afeto, molécula após molécula, o que diminuiu suas taxas de cortisol e evitou de fazer explodir as células do hipocampo.
Tudo o que pode vencer a biologia do sofrimento provocado por uma percepção ou uma representação, acalma os pacientes e age no seu déficit de B.D.N.F (2). A atrofia é então reversivel, ja que agindo em não importa qual ponto do sistema relacional, sobre a célula nervosa, sobre a maneira de "ver as coisas", ou sobre o ambiente, relançamos a secreção deste fator nutritivo do cérebro.
Quando a narração dá coerência ao mundo perturbado, quando a relação instaura um laço seguro, a sinapse é relançada.
O efeito mágico da palavra se explica pela biologia!
* Hipocampo: "Embora tradicionalmente relacionado a processos cognitivos como aprendizado e memória, o hipocampo está envolvido com a resposta ao estresse. Ele é ativado por diferentes estressores e participa do processamento de informações sobre eventos ameaçadores."
(1) - Frool T., Meisenzahl E.M., Zetzche T., "Hippocampal and amygdalo changes in patients with major depressive disorder and healtly control during a 1 year follow up", Journal clinical Psychiatry, 65, 2004 p. 492 - 499).
(2) - Brain Derived Neurotrophic Factor = substância que nutre as células do cérebro, in J.P. Olié, "Da neuroplatiscidade à clinica da depressão", culture Psy-Neurosciences, n°1, 2005).
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