05 março 2010

10 ANOS DEPOIS

 OBS: as pontuacoes no meu teclado estao no dia de folga!
 Aproveitando mais uma vez a interacao entre os blogs, como bem afirmou a carina do blog "conversas com o travesseiro", um assunto que tocaria só la na frente fica batendo na minha porta para entrar, ou melhor sair.
 Quando diagnosticada com depressao aos 18 anos de idade, nao tive apoio da minha familia, que nao entendia e achava sim que era frescura e aos olhos deles eu sempre fora aborrecente, brava, genio ruim, nervosa, teimosa, orgulhosa, que nao dava valor para o que tinha, portanto nao levaram a questao de ser uma doenca a serio (os adjetivos citados ouvi uma vez sairem da boca de meus familiares que conversavam sobre mim e nao notaram minha presenca nos arredores. Chorei tanto esse dia pois me senti A culpada, deveria ir para o corredor da morte, como podia ser uma pessoa tao fraca e ruim, eu tinha 18 anos. Mas me lembrei da Scarlet O' Hara do Vento Levou e jurei... nao jurei nada porque eu estava muito perturbada e sozinha).
   Mas fui encaminhada para diversos medicos, que nem mesmo eles sabiam como tratar um depressivo, afinal estavamos no interior, cidadezinha de 90 mil habitantes.
  E para minha familia nao havia motivos, acho que seria muito doloroso olhar para o historico em que realmente vivemos, o ambiente familiar pesado e a negligencia para comigo na epoca de crianca, que fiquei a merce da loucura de papis e de seres humanos que tambem ja foram filhos e estavam aprendendo.
  Eu por outro lado me retraia cada vez mais e so fui contar para minha mae que havia tentado suicidio muitos meses depois, quase um ano depois do ocorrido e so contei porque foi no meio de uma briga, na qual eu estava sendo cobrada para ganhar dinheiro, me sustentar, resumindo: nao dar trabalho. E eu concordava que sim, estava na hora de ser mulher e assumir minha vida.
  A depressiva que meses atras tinha tentado se matar e que nao se acertava com remedio nenhum, sem tratamento querendo levar um vida "normal", como se fosse o supra sumo da saude! E para piorar sendo comparada e me compradando com outros jovens da minha idade que ja trabalhavam, outros que apareciam na midia e era so sucesso... Era algo assim vindo do mundo externo: "voce ta se sentindo mal, vai se sentir pior sua culpada, sua menina de meia tigela! Sua mimada!" (ah sim este outro adjetivo tambem ouvi muito).
   No meio daquele tsunami que enfrentava consegui me formar em hotelaria, que detestava, os salarios eram horriveis, cheguei a trabalhar em um hotel para ganhar R$350,00, desisti dois dias depois, ate sacoleira virei, pois queria muito minha independencia financeira para poder ir estudar o que sempre fora meu sonho desde crianca: cinema. Queria tentar achar uma saida que nao o suicidio e um dia me sentir bem. Bem por existir por estar viva. Cheguei a ir trabalhar de locutora em um bingo para ganhar R$650,00, mas fui despedida no primeiro dia porque tive ataque de riso. Sim gente depressivo quando nao esta catatonico ri, ainda mais eu que tenho riso frouxo!
   Enfim hoje em dia aos 28 anos como estou eu profissionalmente e depressivamente falando?
   Depressao: ano passado finalmente fechei a combinacao de tratamentos que se adequam para mim com os quais venho me sentindo muito melhor. O auto-conhecimento e consciencia do sistema familiar esta me ajudando demais (fiz uma tecnica terapeutica que chama constelacao familiar da qual falarei mais para frente. Incrivel.)
   Profissionalmente: terminei meus estudos de audiovisual e atuacao ano passado, apos 4 anos estudando. Conheci pessoas psicopatas da area, gente do mal mesmo e gente muito boa. Mas como atrai muita gentalha parei para analisar os porques e cheguei a conclusao de que a depressao me deixava muito vulneravel e molenga, propicia para os diabinhos montarem. Em paralelo montei um projeto de audiovisual para poder fazer minhas coisas, das quais tenho necessidade de falar.  Trabalho pra caramba, mas ainda nao vejo dinheiro entrar. Tentei trabalhar na area, ganhar dindim, consegui muito pouco.
  Uma vez fui a uma agencia de atores que agencia todo mundo e deixei meu material, fotos e videobook. Seis meses depois cheguei em casa e em cima da mesa estava um envelope grandao, abri era meu material com uma carta que dizia algo assim: "agradecemos mas infelizmente seu perfil nao se encaixa nos trabalhos." Fiquei grata de ao menos eles terem devolvido minhas fotos, meus amigos da area nunca tinham ouvido falar disso: "Mas essa agencia agencia todo mundo!" eles diziam. Mas eu nao tinha perfil, afinal vim de outra galaxia, tenho escamas radioativas na pele, sou metade invisivel, como um ser desse pode trabalhar como ser humano na Terra?
   Resumindo: hoje em dia minha familia tem me apoiado demais tanto para me tratar da depressao quanto para engrenar na profissao, solidificando meu projeto de audiovisual. Mas agora a urgencia de ter a independencia financeira tem me visitado muito,  e meu terapeuta diz que agora a ordem do dia e paciencia. As vezes me pego preocupada, pois gasto muito com meus tratamentos. Enfim, mesmo assim tenho melhorado. Viva meditacao e yoga!
 

7 comentários:

Bruno David disse...

ai ai...
com certeza vou comentar BEM o que escreveu e ocupar seu blog inteiro!
Ri com o "meia tigela", adoro estas gírias antigas... nem dente de leite escuto mais...
Pergunta, este terapia constelação familiar vc fez em Campinas? recebi um e-mail mas fiquei na dúvida de fazer...
Tive dias ruins, mas como me FORCEI a correr (mais caminhar na verdade )hoje, estou com ânimo pra escrever... mais tarde, depois do almoço!
Abraço meu!

Bruno David disse...

Nossa... 10 anos!Não sei a partir de quando começou a depressão... lembro de fases, de atitudes, de altos e baixos... muito animado, feliz, e sem vontade, cansado..
Sobre a família... não sei se são eles... é mais o meu modo de sentir amor.. percebi que entendo racionalmente o amor que eles me dão, mas não é o que eu entendo por amor, não é o que eu sinto por amor... Então fica faltando algo.
Quando meu irmão mais velho foi preso, a uns 7 anos atrás, comecei a rever o que eu era, pois me questionei em muita coisa, vi a dor dos meus pais, a tristeza calada do meu irmão mais novo... Acho que foi aí que comecei a olhar mais pra mim.. Meu pai se fechou pro mundo, minmha mãe entristeceu, tudo por causa do meu irmão. Neste cenário em que tudo podia dar errado, faltava dinheiro, mas não sei porque tinha uma força imensa dentro de mim, uma vontade... Netse contexto estava trabalhando, ia pro cursinho de bicicleta, era só esforço, me anulei em outros sentidos na vida. Daí passei no vestibular e fui morar no interior. Veio um pouco de esperança em casa. E um alívio finaceiro, eu ganhava bolsa, morava e comia de graça. Foram 5 anos assim. Cada ano eu conquistava mais alguma coisa. Neste meio tempo meu irmão mais novo também entrou numa universidade pública, e as coisas em casa começaram a se acertar...
Ai ai... aconteceu muita coisa neste tempo...
Vou me concentrar no que aconteceu ano passado. Comecei o mestrado, estava morando com minha ex namorada, minha vida financeira melhorou, meu irmão saiu da cadeia.
Eu culpava ele por tantas coisas...
Mas fiquei feliz pela felicidade dos meus pais!
Mas não estava feliz, não sei porque, mas meu corpo pediu arrego. Me senti dente de leite pra vida...
Decidi começar a cuidar de mim, terminei o namoro, e comecei a fazer terapia...
Primeira coisa que ouvi: VOCÊ SE PREOCUPA DEMAIS COM OS OUTROS, COM OS PROBLEMAS DELES, QUAIS SÂO OS SEUS PROBLEMAS?
Depois me foi perguntado o que eu SENTIA.
Sentir?
Eu racionalizava tudo, eu me achava o super homem, ou o oráculo do matrix, capaz de fazer tudo acontecer, capaz de fazer as coisas aconetcerem do jeito que eu queria...
Mas a questão é que eu não sabia o que queria... Passei muito tempo no automático.
Tive várias respostas, mas turrão que sou não concordei com a maioria delas.
Num dia de crise, fui até o atendimento psicológico emergencial e levei um tapa na cara. Você não ficou feliz porque seu irmão mais solto saiu da cadeia. Você estava tendo um papel central para sua família e agora que ele saiu você deixou de ter...
Na hora que escutei isso chorei que até tremia. E pensei que por mais que eu me esforçasse não valeria a pena, porque meus pais, amigos ou o mundo, gostariam mais de outra pessoa que fizesse tudo errado. Como se o segredo fosse fazer tudo CERTO.
Bom...
Porque falei sobre isso.
Na hora me pareceu verdade, porque eu precisava de uma resposta, eu queria entender o porque. Tinha que existir uma razão para as coisas estarem assim. E não foi meu pai, não foi meu irmão, não foi minha mãe. Fui eu. Que me anulei. Que esqueci o que queria pra mim. Que preferi os outros. Que direcionei minha vida pra aplausos o para agradar alguém.
Tá certo, meu pai não dava atenção pra mim na infância, minha mãe me dava cuidado, mas não amor. E agora emergencialmente preciso de amor? Algo que me faltou tanto e que agora não sei o que é?
Então...
Mas ao mesmo tempo não posso culpar eles, a realidade deles é outra.. Eles não viveram o que eu vivi. Eles não tem a mesma estrutura emocional.
E percebi que sou muito mas muito emotivo. Que sinto demais as coisas...
E não adianta mais fechar os olhos pra isso.
E agora é se auto descobri...

Bruno David disse...

Sabe, ainda vou achar um monte de razões para as coisas.. Vou achar motivos que pareceram os reais mas que depois serão deixados de lado. Mas o que eu quero mesmo é pensar no agora, ter cabeça pra ficar no hoje.
O ontem eu digiro aos poucos...
E ainda não consegui...
O ano passado foi PAULEIRA. Mas estou vivo e estou aqui. Tenho medo de perder o que conquistei, mas ao mesmo tempo quero arriscar, quero dar uma chance pra mim.
Vou começar a fazer o mínimo.
O mínimo é comer bem.
Fazer exercício físico.
Fazer o mínimo de minhas obrigações.
Conversar com pessoas agradáveis pra suportar as que me incomodam demais.
E tentar não me trancar...
Tentar não ficar sozinho...
Tentar dividir!
Quero recuperar meu prazer pelas coisas...
Sei que era pra comentar sobre você. Mas acho que falando sobre mim e sobre o que passei de certa forma falo de forma mais "intensa?" sobre o que entendi do que vc falou!
Outra coisa, meu orgulho não me deixa compartilhar meus problemas com minha família. O máximo que saiu foi que estava mal. E que estou em tratamento.
Sorte que a faculdade tem tratamento gratuito e consigo pegar os remédios de graça no posto de saúde também...
Quero olhar mais pra mim, cuidar de mim, pra assim ter coragem de ficar mais transparente e o olhar do outro não me incomodar tanto...
Grande Abraço!

Bruno David disse...

Ahhh, esta semana faço 27 anos. Dia 07/03...
Você tem 28?
Ando falando tanto por aqui que talvez tenha que criar meu blog....
ABRAÇO!

Anônimo disse...

Sabe o que eu acho interessante? Eu leio o blog da Alyson e acho ela super forte. Leio os comentários do Bruno e vejo a mesma coisa. No entanto, passamos por coisas parecidas (com a diferença de q cada um tem a sua história) e eu me sinto uma molenga, fraca, que não tem força de vontade. Acho que a voz dos meus "pais internos" ainda falam muito alto...
Sabe Alyson, eu li um livro sobre distimia do psiquiatra Táki Cordás, da USP: Do mau humor ao mal do humor. Lá, o autor conta que, historicamente, a depressão crônica era chamada de melancolia. No período renascentista, os melancólicos eram muito valorizados pelo seu talento nas artes. Depressivos eram valorizados na sociedade! Talvez, naquela época (e se existisse cinema), você não tivesse seu material devolvido. Talvez, no Brasil do Rebolation (q graças a Deus eu NUNCA ouvi, mas sei sobre), seu talento seja grande demais. Não faz o perfil. Tudo bem que ser desvalorizada por excesso de talento não põe dinheiro no bolso, mas eu gostei tanto do V.I.D.A.!! Nos resta nos adaptarmos. Como bióloga de meia tigela (pq só fiz meia faculdade), penso muito na questão de adaptação. Nossa doença é ser diferente? E, olha, tbém tenho 28 nunca trabalhei mais do q 7 meses em um mesmo lugar e sou sustentada pelo marido. Gosto? Claro que não, mas tenho o apoio dele q é fundamental. E agora vc tem o da sua família. É isso, pelo menos vc sempre soube o seu caminho, por mais difícil que seja trilhá-lo. Eu nem sei pra que lado vou...
E Bruno, ainda bem q vc falou q vai fazer 27 anos. Qdo vc falou q meia tigela era gíria antiga, me achei uma velha!! rsrs
Bjs a ambos

Anônimo disse...

Esqueci de novo. Bjs da CARINA (OpenID louco!!)

alysondaas disse...

vocês são umas fofuras!

depois escrevo mais, pois hoje tô meio mole!

bjokas