08 abril 2010

CONTRA IGNORANCIA: ESCLARECIMENTO!

O mal invisível, materia da revista galileu, parte 4
Por Camila Artoni,

"As causas da doença são variadas. A vivência de situações desgastantes ou traumáticas (como a perda de um familiar), abuso de drogas ou álcool e personalidade melancólica podem levar a um quadro depressivo, mas entre 30% e 40% das raízes são genéticas."
"Um estudo realizado no centro médico da Universidade Columbia, nos EUA, revelou que a depressão se intensifica de uma geração para a outra. De acordo com a equipe, cerca de 60% das crianças cujos pais e avós sofreram de depressão têm transtorno psiquiátrico antes da adolescência. O número é mais do que o dobro de casos (28%) observados em famílias sem histórico. Felizmente, como explica Helena Calil, a genética é predispositiva, não decisiva.
Interação diversificada
Uma das causas mais importantes, afirma Pedro Delgado, é o estresse do organismo. "É como uma pessoa com veias entupidas que vá correr e sofra um enfarte. Correr é o estresse que leva ao problema", diz. Por isso, a saúde geral do paciente também influi. "Quando o corpo está debilitado, por qualquer motivo, fica mais vulnerável", diz o psiquiatra. "A depressão pode ser resultado da interação entre várias vulnerabilidades." Além disso, se o paciente tiver qualquer outra doença, a situação piora se ele estiver deprimido. Pessoas nessas condições apresentam um maior risco de mortalidade por outras causas do que a população saudável.
Fica claro, com isso, que não adianta mergulhar no problema. Não é uma questão de evitar a tristeza a todo o custo - até porque a depressão é muito mais intensa e abrangente que o estado emocional -, mas de reequilibrar uma desordem química que tende a ter efeitos perigosos. Na maior parte dos casos, medicamentos são imprescindíveis. "Antidepressivos são como fertilizantes", compara Delgado, "que ajudam a crescer os neurotransmissores. O remédio dá aos neurônios capacidade de ficarem mais resistentes, imunes ao estresse."
Uma das maiores preocupações de pacientes que precisam submeter-se à terapia farmacológica é a possibilidade de desenvolver dependência, mas os médicos alertam que não há o que temer: a falta de uso pode provocar sintomas físicos, como enjôos, mas não crise de abstinência. O risco maior de quem começa o tratamento é interrompê-lo.
Pílulas da felicidade
Uma promessa de recuperação rápida, acompanhada de pouquíssimos efeitos colaterais - quando o Prozac surgiu no mercado, em 1987, pacientes deprimidos de todo o mundo viram no medicamento a saída para quase todos os males. Antidepressivos, que eram receitados em sua maioria para casos de psicose, passaram a beneficiar também pessoas em quadros de ansiedade e depressão comum.
De fato, houve uma resposta assombrosa ao tratamento a essa classe de pílulas, que levou, durante a década de 1990, a uma escalada dos antidepressivos. Mas a disseminação, abrangente demais, acabou trazendo um alerta: a nova geração de drogas para tratamento de depressão poderia estar vinculada a pensamentos - e, muitas vezes, atos - suicidas.
A lebre foi levantada em 1997, quando um paciente de 13 anos, diagnosticado como portador do transtorno, enforcou-se depois de um mês de tratamento com uma dessas drogas. O episódio lançou um alerta na FDA (agência americana de controle de remédios e alimentos), que foi pesquisar os riscos de ministrar as pílulas a crianças e adolescentes.
O trabalho demonstrou que o uso de determinadas substâncias realmente aumentava a incidência de pensamentos suicidas - o risco, entre jovens que tomaram Prozac, foi 50% maior em relação a uma amostra de adolescentes tratados com placebo. O resultado foi obtido após a análise de testes clínicos que examinaram o efeito de antidepressivos em crianças e adolescentes com problemas psiquiátricos.
Embora não haja uma resposta definitiva sobre o porquê dessa reação, especialistas acreditam que os antidepressivos, ao tirar os jovens da apatia da doença, acaba dando energia para o suicídio. Isso acontece principalmente no início do tratamento, quando o medicamento ainda não fez mudanças profundas.
Doença residual
"Erro nas doses ou no período de tempo e abandono da intervenção são as principais causas de recaídas", explica Calil. "Em geral, o paciente deixa de tomar o remédio pelos efeitos colaterais ou porque a crise aguda já foi sanada. Mas um tratamento malfeito, incompleto, pode ser extremamente perigoso. Entre essas pessoas o abuso de substâncias e o índice de suicídio também aumentam." Além disso, alerta, as recaídas passam a acontecer a intervalos menores e ficam mais resistentes aos tratamentos. A cada vez que se repete, também, a doença deixa resíduos no sistema nervoso.
Existe, no entanto, uma diferença entre recaída e recorrência. A primeira acontece quando o tratamento é interrompido. A segunda, depois de tratamentos bem-sucedidos. Isso acontece, simplesmente, porque a depressão é por natureza uma doença cíclica: entre 75% e 90% dos pacientes sofrem episódios múltiplos. Pacientes com histórico de três ou mais crises devem, inclusive, fazer tratamento prolongado, que previna as reincidências, porque depois da terceira vez fica mais difícil fazer o corpo responder aos medicamentos."

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