10 maio 2010

VIDA "NORMAL"?

Ainda não escancarei de vez o que a doença depressão fez e faz na minha vida, me seguro muito para levar uma vida "normal", talvez por medo de perder o controle e enlouquecer de vez, talvez porque a vida toda tive que abafar o estado mental doentio em que vivia e hoje em dia até que isto me foi util pois me forço a viver "normalmente".


Ontem uma lembrança de quando tinha oito anos, nítida como se estivesse vendo um filme, me visitou. A sensação daquele dia ficou muito forte: perturbação, loucura e desequilibrio. Ao mesmo tempo em que um lado meu juntava a bagunça tentando organizá-la para prosseguir com a vidinha de uma criança normal de 8 anos de idade.
Com tal lembrança percebi que sempre vivi a margem da loucura desde muito mais cedo do que costumo falar, e sempre disfarcei. Talvez de algum modo eu sabia que aquilo não seria bem aceito ou até mesmo perigoso, poderia realmente perder a sanidade...
Por exemplo: passei anos da minha infancia arrancando os cabelos, literalmente falando; quando tinha 12 anos parei de ir para a escola, mas acordava as 6 da manha, tomava um copo de achocolatado com leite sugado pelo canudinho, fingia que ia para a escola, esperava o movimento da casa acabar e voltava para me esconder no closet, atras das roupas. Ficava horas ali até minha mae ir para o trabalho, arrancava os cabelos, roía as unhas, chorava e ria, para depois aparecer como se tudo na escola tivesse ido super bem!
E anteriormente a isto, aos 8 anos já vivia um inferno na minha cabeça infantil, e foi ela que me lembrou disso a uns dias atras:
Com apenas 8 anos ficava horas chorando trancada no banheiro, sentindo um mal estar horroroso e pensava se aquelas modelos lindas da revista Capricho, que minha irmãs liam, também chorava. Ficava com raiva, pois duvidava que alguem realmente sabia o que se passava na vida íntima de Ana Paula Arosio

 (a garota da capa na época) e como deveria ser para ela chorar escondida no banheiro. Trazia a situação para perto do meu coração e com a foto da minha irmã mais velha, que já morava em outra cidade, me debulhava em lágrimas pensando se ela também sentia o que eu sentia e como eu gostaria que ela estivesse mais perto para eu perguntar. Mas quando a gente se via eu fingia ser uma criança "normal" que chorava apenas quando se machucava, ou quando ficava de mal de alguma amiguinha. Nessa fase achava algumas atividades solitárias que me aliviavam, mas já sabia que não ia nada bem.
Foi com 7 para 8 anos que sonhei com um senhor muito sério que me dizia: "se prepare, sua vida vai mudar muito". Ao acordar achei o máximo e já imaginei que de repente viraria atriz mirim como sempre quis, que poderia ir estudar coisas que me interessavam...
Realmente estudei muitas coisas que se interessaram por mim, a depressão foi uma delas, a loucura uma paqueradora horripilante que sempre fiz questão de ignorar, desde os 8 anos... Quem sabe daqui uns dias não descubro que foi até antes?
O mais importante com todas essas lembranças é lembrar de mim, de minha história, que é sim muito incômoda, mas é minha! E eu, assim como a sociedade, deve respeitar. Ouviram?

2 comentários:

Julien disse...

É isso ai!!!
Essa coragem de realmente falar o que a depressão nos faz sentir não é nada fácil!!!
Quando estava em total crise e eu tinha a Gi para cuidar...meu Deus...era a morte...falo que a verdade mesmo não consigo contar nem para o espelho...a dor nos quebra por dentro!!!

bjos

alyson disse...

nossa ju e vc ainda com nenem.. parabens menina!!! e sua filhota tera mto orgulho de vc!

bjoka