08 fevereiro 2009

A SALVADORA DE MIM

Hoje acordei assim em estado de luto. Agora já não sofro tanto quanto antes, por uma razão, depois que aceitei a doença e comecei a me conhecer fiquei mais paciente. Agora é luto, é aceitação. Antes era raiva, rebelião. Em meio a esse luto comemorado comendo banana com granola murcha, uma cena veio tão nítida em minha mente: uma cena do filme "uma história americana" em que a família reunida para comer é abalada pelo irmão mais velho que agride a irmã: ele a segura e enfia um bife na boca dela.
Paralelamente a esta cena outra semelhante veio, desta vez da vida real: minha família reunida, eu devia ter uns nove anos fingia que comia, sentada de frente para minha irmã adolescente que estava sendo obrigada agressivamente pelo meu pai a engolir vários chocolates de uma caixa, um atrás do outro. Ela nervosa chorava revoltada engolindo algo que deveria ser motivo de prazer e não de tortura. A cena em si não foi nítida, mas a sensação de nervoso que senti naquele momento; o medo de meu pai; a pena de minha irmã; a impotência; a raiva da omissão de minha mãe foram claros. Assim como a clareza atual com que finalmente enxerguei como me maltratatei tanto durante anos, criando um mundo de fantasia para encobrir a realidade violenta, me negligenciando e esperando de mim um comportamento que simplesmente não condizia com a minha estrutura psicológica, querendo ser algo que não era: uma fortaleza inabalável. O problema da depressão não foi somente o ambiente em que vivi, mas como me disse meu pai uma vez (o desperdiçador de chocolates), o modo como lidei com o que a vida me trouxe. É por isso que demorou um pouco mas aprendi, o maior bem que faço é cuidar de mim!

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