23 fevereiro 2011

PARA MINHA MÃE!

Minha mãe muito amada!
Enxergar os erros dos pais faz parte de qualquer terapia e tratamentos que levam ao auto-conhecimento, a psicologia e outras terapias são baseadas nesse período da infância. Se a criança se desenvolve em um ambiente conturbado posteriormente poderá vir a desenvolver doenças, aliás a psicologia familiar diz que quando um membro da família adoece significa que aquele grupo não vai nada bem!

O problema é que assumir que também existe o lado ruim na nossa própria família é algo visto com maus olhos, temos dificuldade de assumir nossos erros, mas apontamo-os facilmente na família alheia. 
E os valores propostos pela sociedade incentivam isto, além de haver a ingênua crença de que temos que olhar somente para o lado bom, como se resolvêssemos fingir que a noite não existe, só porque ela é escura. Podemos fingir que a noite não existe mas isto não a impedirá de aparecer! E ela aparecerá todo final do dia, em alguns lugares ela até aparecerá disfarçada de dia, mas é noite! Quando olhamos para a noite tradicional vemos que mesmo escura ela tem sua beleza. Esta é a natureza da vida: dualidade! Noite/dia, quente/frio, bom/ruim. É assim que nos desenvolvemos, mas esta incoerência de querer fingir que só há o lado positivo faz com que deixemos de lidar com a realidade em sua totalidade e assim ficamos fragmentados.

O fato de eu ter descortinado os aspectos menos gloriosos de família não quer dizer que não ame, pelo contrário! Amar o lado bom é fácil e prazeroso, agora identificar o lado ruim e conseguir mesmo assim compreender e sentir o amor crescer... foi o que aconteceu comigo!
Compreendo que na sua época os sonhos eram baseados no amor romântico que incluía a fabricação de filhos, pouco se sabia que quem pagava pelos comprometimentos e sonhos dos pais, eram os filhos que não tinham escolhido os mesmos sonhos e comprometimentos dos pais. Compreendo muito e diante da sua situação a admiro demais pelo que fez da sua vida! Você fez o melhor que podia, e você sempre foi uma mulher boa, forte e honesta, como poderia não amar uma mãe assim como você? 
Enfim, hoje em dia já podemos identificar que o amor romântico, devido a força da evolução, está sendo substituído pela necessidade de olhar para si mesmo, de cuidar de si antes de se responsabilizar por uma vida nova: primeiro cuidar de si mesmo, como se fosse a um filho, mesmo porque nosso planeta não comporta mais tanta gente, ainda mais nessa fase de despertar em que nos encontramos.
Mas voltando a nós: note que o que você narra a meu respeito realmente aconteceu, porém até meus seis anos de idade e depois?
Eu te conto: eu sempre amei e amo muito a todos, e achava e acho isso mesmo: todos mereciam atenção e uma chance, por isto com uns três anos de idade me abalava até o quartinho de fora para falar com meu bisavô. 
Porém em casa o que nunca entendia é porque dava tanto amor e carinho com tão pouca idade e recebia em troca tanta hostilidade vinda de meu pai, a qual era ignorada por você. 
Sei que você ainda não concorda muito com a idéia da psicologia, aonde a fase de criança é a fase delicada da formação, sendo assim o que se passa nesse periodo molda o adulto de amanhã. Eu sou a prova disto, pois quando precisava de apoio e segurança para que essa minha essência, a qual você descreve, não entrasse em colapso, ao contrário fosse incentivada através da paz e harmonia no lar, através do respeito com aquela criaturinha que precisa dos adultos para crescer com segurança, eu nao tive. 
Vivia em um ambiente hostil, tumultuado, com medo, detestava meu pai que era intimidador e abusivo e nunca entendia porque era obrigada a engoli-lo goela abaixo e porque os adultos agiam como se aquilo tudo fosse natural e saudável quando estava na cara que nao era. E os próprios adultos também brigavam entre si, sempre que tinham a chance tomavam suas biritas para ficarem felizes e relaxar, e disfarçavam o tempo todo que tudo estava bem e quando questionados mentiam dizendo que "está tudo bem!".
Tudo isto no fim das contas me foi muito bom! Tudo bem que quase morri aos 18 anos de suicídio, mas mesmo isto foi bom, pois pude ter a chance de despertar para a totalidade da vida e sentir a beleza e aprendizado que existe mesmo nos aspectos ruins, que quando aproveitados nos impulsionam do estado dormente para a consciência acordada. Depois de tanto mal estar e anos de zumbi, tenho a chance de entrar em contato com minha essência novamente, aquela que transparecia até uns seis anos! Tenho resgatado minha leveza, sentido minha capacidade de amar e compreender!
Como meu pai mesmo me disse há mais de dez anos atrás, logo que fui diagnosticada com depressão, ele falou mais ou menos assim, não me lembrarei das palavras exatas, então aproveito e escrevo bonitinho: "tenho grande culpa por você estar doente, mas agora a responsabilidade da melhora é só sua!".
E é! E para chegar nessa melhora tive que fuçar no lixo também. 
Amo muito você e se é verdade que escolhemos a família que queremos nascer, escolhi muito, muito bem! Além das lembranças horríveis também tenho ótimas lembranças! Por exemplo: quando você, depois de um dia de trabalho cansativo, atendia meu pedido e vinha com todo amor do mundo, sentava na beirada da minha cama e cantava com sua voz doce até eu dormir as musiquinhas que eu amava!
Aliás amava "o boi da cara preta", realmente era bem esquisita e entendo que não deve ser fácil ter que criar um ET! Embora você também seja um, mas acho que nossos planetas são meio diferentes...
Amo você, a cada dia mais! E fico muito feliz por você estar me apoiando tanto nesse momento crucial da minha vida! E o apoio a que me refiro é justamente o fato de você vir aqui visitar meu blog e ter interesse em me conhecer!
bjokas



6 comentários:

Maria Helena disse...

amor: jamais duvido de seu amor por mim.Sei q é importante demais o trato com a criança,(já q sou médica há 40 anos ,nesse ano!),pela família,na infância.Tenho o maior respeito pelos profissionais q lidam com a psiquê humana pois somos,cada um,uma grande incógnita.Há intensa dificuldade em nos conhecermos a fundo,por isso mesmo.Admiro-a pela luta q vem combatendo contra a depressão.E me sinto orgulhosa de vê-la vencedora.Essa doença é crônica e exige tratamento pela vida afora como várias outras doenças crônicas.Sabe-se da disposição genética dela e de outras doenças mas sabemos q os gens q a determinam podem ou não ter expressão devido a outros fatores(epigenética).Pela minha própria personalidade, tenho dificuldade em julgar pessoas,não conseguindo culpar outros fatores pelo q nos acontece.Sempre acho q ''nós podemos'',embora os fatos adversos.Aliás essa acertiva com vc é real: vc pode e sempre mais.Bjão

Ana Maria Saad disse...

é isso mesmo! e estou muito disposta a me tratar pelo resto da vida e a compartilhar meu aprendizado que a VIDA me impos!
fase nova, ainda bem!!!
amo vc!
bjoka

Cris disse...

É tão bom falar com a alma é como se tirassemos 10 quilos das costas.
Sexta passada fui a terapia a intenção e a lógica seria falar sobre mim, mas a sessão acabou sendo sobre meus pais.
Meu pai sempre foi ausente, não demostrava carinho e nem afeto, mas sempre respeitou a mim e minha irmã, para vc ter idéia quando minha irmã fez 10 anos ele deu a ela aquele brinquedo para bebês de encaixar triângulos e quadrados no telhado da casinha (lembro como se fosse hj)ele nunca soube em q série eu estava se passava de ano ou não.Meu pai faleceu quando eu tinha 15 anos e gostaria muito de ter aberto o meu coração e disser a ele o quanto da vida ele estava perdendo.
Minha mãe passou a vida ao lado do meu pai sendo desprezada,mas sempre deu e dá muito afeto as filhas, mas não aceita ouvir críticas e sempre se coloca pra baixo.Não sou perfeita, mas muitas das minhas frustrações se deve a minha criação, tenho consciência que a melhora cabe a mim, mas gostaria muito de abrir meu coração para ela e colocar meu ponto de vista, mas tenho a certeza que ela não aceitaria a minha opinião.
Enquanto não desabfo com ela desabafo com vcs.

Bjos
Cris

Ana Maria Saad disse...

oi minha querida cris!
vc sabe q passou pela minha cabeça que poderia estar expondo minha familia e entao senti: se a exposição é para incentivar a melhora entao ela é boa!
e tive a certeza disso qdo li seu comentario!
hj sou mto feliz por poder trocar com minha mae de modo honesto e amoroso, é como vc disse alivia mto!
c vc ainda nao pode fazer isso com sua mae venha aq mesmo, mas espero que um dia vc consiga abrir mesmo seu coracao pra ela e que ela compreenda!
c cuide!
bjoka

Sérgio Paffer disse...

A cada dia que passa mais admiro você e sua jornada.Que coisas mais lindas,Alyson.Você é um ser humano de coragem e transparência ímpar,uma jóia rara.Eu tenho aprendido muito com vc.Só posso dizer uma palavra que é simples mas resume o que estou sentindo:obrigado.Muito obrigado.
Que o Universo,Deus,as Forças Positivas da Vida sempre te amparem para vc manter e reforçar o seu auto-amparo.Tenho dito a meus clientes,amigos que desabafam comigo:"é preciso que a gente se adote"."é preciso que a gente se acolha e se dê amor".Porque por mais que queiramos buscar isso na nossa família,amigos,companheiro(a)s,a única pessoa que vai passar a eternidade conosco,somos nós mesmos.E esta é a principal relação que precisamos desenvolver de forma saudável.Pois todos os outros na nossa vida serão momentos.Um dia nossos pais morrerão,relações podem ser desfeitas e amigos podem por várias razões trilhar caminhos diferentes.Não com isso queira dizer que não precisamos do amor dessas pessoas,ao contrário,todos precisamos receber e dar afeto.É a nossa nutrição afetiva,tão importante quanto a nutrição do alimento.Porém, basear a nossa vida na dependência do outro,é abrir mão do nosso poder pessoal de nos auto-gerir,de estarmos bem por fazermos e agirmos de uma forma que nos deixe felizes.Acho que através do outro,encontramos companheiros de viagem nessa estada aqui nesse plano.Então,se encontrarmos a harmonia com nós mesmos,teremos a nossa autonomia afetiva e emocional pra que nossas relações com o outro sejam mais maduras,porque frases do tipo"eu vou fazer vc a pessoa mais feliz do mundo" pra mim é igual a papai noel.Uma doce ilusão e um grande engano.Quem pode nos fazer felizes somos nós mesmos.Qual é a pessoa que mais conhece nossas necessidades,desejos,aspirações?somos nós,a nossa alma.E esperar que uma outra pessoa preencha nossas lacunas,nossos vazios,nossas necessidades é gerar uma situação quase parasita para com essa pessoa e o outro por mais que nos ame e o amemos é o outro.Podemos compartilhar afetos,carinhos,vivências,ter uma vida sexual legal,mas no final voltamos para nós mesmos.E os outros na nossa vida agem de acordo com sua personalidade,nível de entendimento,visão de vida,que pode não ser igual à nossa e quando queremos nos moldar ao outro,ou querer que esse outro seja o que queremos,ocorre uma despersonalização.Não podemos abrir mão de quem nós somos para ficarmos numa relação que nos ampare.Podemos sim,fazer concessões,negociar,mas nada que agrida á nossa essência.Pois nossa essência,nossa alma é o nosso Eu verdadeiro e essa conexão no meu humilde ponto de vista é fundamental até para nos conectarmos com o outro.Não sei se consegui expressar o que senti,as palavras nem sempre o conseguem,mas fiz uma tentativa.Parabéns pelo olhar maduro diante do teu passado e da sabedoria que vc adquiriu."as perdas nunca são totais".Um grande abraço.

Ana Maria Saad disse...

valeu seginho!
e é isso mesmo: somos responsaveis pela melhora!
adoro seus escritos!
bjoka