19 fevereiro 2011

NÃO FAÇAM FILHOS A MENOS QUE...

Depois que fui diagnosticada com depressão, passei uns dez anos ouvindo a frase: "por que será que ela tem depressão? não tem motivo...". Gente, uma doença dessa não vem do nada! O X da questão é que muitas vezes o fato de encarar os motivos reais do surgimento da Depressão implica em ter que encarar a realidade que envolve outras pessoas, ainda mais como no meu caso, em que a dita cuja me acometeu ainda criança. 

E que realidade é essa a ser encarada? Que somos humanos, logo alem de acertar erramos! E devido a nossa natureza humana geralmente erramos muito mais do que acertamos, o que é saudável quando encarado de frente pois assim podemos aprender! Mas é preciso lidar com a realidade e não disfarçá-la!
Aprendi muito sobre disfarces, cresci ouvindo em casa, na escola e no centro espirita que deveria ser algo que não era: "carinhosa como fulana, estudiosa como cicrana, alegre como beltrana, etcetcetc", foram poucas vezes em que os adultos louvavam meu verdadeiro jeito de ser,  minha natureza. Mas, coitados, o mesmo foi feito com eles, eles vieram desse círculo vicioso: onde o mesmo foi feito com os pais deles e assim por diante.
E eu ainda tive o agravante de ter um pai intimidador que diariamente fazia questão de ressaltar, e até inventar defeitos que não tinha. Ou seja, passei a me rejeitar. 
Lembro uma vez que perguntei para minha mae, devia ter uns 9 anos, porque todo mundo gostava mais da minha prima, da mesma idade que eu, do que de mim. Porque ela era elogiada por todos como a "bonequinha de porcelana esperta"  e eu... Nada! Nenhuma validação, o que reforçava o que já sentia: eu não tinha valor. Minha mãe não deu muita bola para minha pergunta, aliás como fazia com tudo.
Mas eu estava disposta a mudar e ser alguem querida, mesmo porque ouvia de todos os lados que era preciso mudar, ser melhor, ser como fulana, cicrana, beltrana... Assim introjetei a repressão em mim e “repressão é viver uma vida que não era para você viver. Expressão é vida: repressão é suicidio”. 
Eu passei a ser a pessoa “madura”, "conselheira", “responsavel”, "independente", ou "rebelde", "intransigente", interpretava diferentes personagens e  aquela raiva que sentia por me desrespeitarem foi reprimida: nao dava bola para ela, fingia que ela não existia. Aliás, todos os sentimentos e emoções que me ensinaram serem ruins: tristeza, raiva, inveja, angustia, medo, etcetcetc, fingia não existirem, reprimia tudo e eles foram morar no meu porão - o inconsciente - e aí danou-se! Todos eles passaram  a me influenciar dali, sem eu saber!
Conforme fui crescendo passei a me entulhar com muitas informações, regra e normas, buscando alguem que me desse uma direção, porque eu não me achava e quando a gente está longe do nosso ser, ao inves de seguirmos nossa natureza, nosso coração, buscamos lideres, buscamos alguém que nos diga o que fazer e como viver nossa própria vida. Mas eu não achei ninguem, ainda bem!
Até que graças ao cinema e as terapias pude limpar todo o entulho que estava em mim para poder finalmente ver o que sou! Claro que depois de MUITA limpeza: tirei os sentimentos e emoções que foram guardados no porão, extravasei toda a raiva, inclusive aquela que descobri ser a mais forte: raiva dos adultos que não me ajudaram a desenvolver meu potencial, que me negligenciaram. E ainda nesse processo terapeutico, hoje continuo me conhecendo a cada dia, eu ser humano, com tudo o que tenho direito!
Filme "Preciosa" mostra de modo extremo como algumas
pessoas não tem condição de criar uma criança!
No meu caso acabei desenvolvendo uma doença grave que quase me matou por conta da imaturidade de adultos que supostamente deveriam ter me ajudado a desabrochar. Por isso que hoje em dia se alguem quer ter filho, o planeta já esta superlotado mas se mesmo assim a pessoa ainda quiser, que pense primeiro na propria relação consigo mesmo; que va fazer terapia para se conhecer, que vá a fundo em si para que possa entao desempenhar o papel de pai/mãe, que é ajudar aquele novo ser a desenvolver seus próprios potenciais!
Afinal, não é porque a pessoa não chegou ao extremo de uma doença mental que ela não precisa   de terapias e meditação para se conhecer!

PS: minha médica, que já teve depressão e síndrome do pânico também, uma vez disse: depressão e síndrome do pânico tem muito a ver com a raiva e outros sentimentos/emoções que são reprimidos. Chega uma hora que a gente não aguenta e as doenças explodem!


5 comentários:

Rick disse...

Puxa, como eu conheço essa história.
Fiz a mesma pergunta para minha mãe numa noite de Natal: porque você gosta menos de mim do que dos meus primos? A resposta: "Pára de bobagem, pára de inventar coisas..." Virou as costas e foi falar alguma coisa divertida para... os meus primos...hehe...
Minha mãe tinha outra máxima, que disparava sempre que eu precisava conversar sobre a tristeza que estava sentido: "Felicidade é uma questão de TREINO, você treina para ser feliz e fica feliz."
Então tá né... hehe
mas eu fiz a mesma coisa que você, virei um menino super inteligente, super maduro, que cuidava de todo mundo, ajudava a todo mundo... Hoje estou desfazendo tudo isso. E as pessoas da minha família levam um susto quando digo: cala a boca todo mundo que agora EU ESTOU COM UM PROBLEMA E QUERO FALAR! acho que sua médica tem toda a razão.

Rebeca disse...

Adorei passar por aqui!
sorte, Ana!

beijos

Ana Maria Saad disse...

valeu rebeca! amei seu blog!!!
e rick treine bastante, hein! hihihihih
mas compreendo até essa mentalidade, a maioria de nos humanos ainda é mto imaturo, talvez se eu nao tivesse tido depressão tb fosse...
e se ate algumas pessoas q tem a doença nao querem tocar no assunto, imagina quem nao tem! por isso que a gente tem que falar! vamos treinar a fala! hahaha
bjoka

Maria Helena disse...

engraçado como sentimos uma coisa e o/a filho/a,em criança,(até adulto),pensa q estamos sentindo outra...Sempre a achei,filha querida,uma menina mto diferente,segura de si,autêntica,q só fazia o q achava correto.Tanto é assim q aos 5anos,deixava q vc fosse à loja, com um motorista q transportava vc e suas irmãs e irmão p/ a escola,p/ comprar roupas, sòzinha,já q vc escolhia todas,era mto econômica e voltava só com algumas,dizendo,''está tudo mto caro!''Aos 5 anos!!Eu achava incrível, como tbém qdo vc ia no quarto do bisavô ,q morou uns tempos conosco,dizendo q iria conversar com ele.E conversava mesmo,mto.Todos nós íamos lá observar seu jeito,aliás mto incomum para tão pouca idade.Enfim nós a admirávamos!Todas as irmãs e irmão adoravam qdo vc fazia a prece em nossas reuniões familiares de estudos espíritas,se oferecia p/ fazê-las e pedia por todos e cada um ,bem alto,em favor das crianças q sofriam,doentes,etc e ''discursava''naquelas preces a ponto de uma das irmãs ter ataque de riso e ...vc,impávida prossegui a prece,feito um discurso,q encantava a todos e a mim.Assim tbém qdo pegava um microfone,cantava,falava e de repente,resolvia desfilar pela sala,fazendo seu avô morrer de rir e pedir repetição.Vc ,ignorando tudo repetia a cena.É atriz,mesmo.Eu a achava segura e feliz e amada e admirada por todos nós,sua família.Pena q não é o q vc sentia sobre nós.Amo vc.Bjos

Ana Maria Saad disse...

mamis,
fiz um post em resposta a seu comentario!
bjoka

http://depressaoassassina.blogspot.com/2011/02/para-minha-mae.html#more