20 setembro 2008

NAMORO


Aos dezenove anos era estudante de faculdade, depressiva, suicida em potencial, com inúmeras tentativas em vão de tratamentos no currículo bem como um namorado. Em meio aquele nevoeiro causado pela doença não conseguia enxergar muito a minha vida, nem o caminho sendo percorrido. O namorado se tornou meu porto seguro, ficamos muito amigos, confidentes.
Ficava chateada porque inúmeras vezes estávamos de saída e de repente tinha uma crise de mal estar que culminava em choro ou irritação. Em alguns casos tinha chilique no carro, ou até mesmo na porta do lugar de destino, ele retornava comigo sempre muito carinhoso. Não me cobrava nada, não exigia explicações, era leal e companheiro e mesmo quando precisávamos ficar cada um com sua própria pessoa, não havia desentendimentos. Claro que tudo é motivo para evidenciar o lado negativo das situações. Algumas pessoas próximas ficaram preocupadas pois achavam que estava dependente emocionalmente do meu namorado. Coitadas se elas soubessem que eu estava era desequilibradíssima emocionalmente e que o possível sofredor com tal relacionamento só poderia ser o namorado, talvez dessem apoio a ele na escolha de ficar ao lado da pessoa amada. Tentávamos levar uma vida "normal" aceitando as limitações que a doença impunha, a mais branda interferia diretamente no relacionamento: a libido oscilava demais, mas mesmo assim fomos morar juntos e viver envolvidos pelo amor. Parei de pensar tanto em suicídio e decidi que se tinha que viver com a doença desenvolveria a paciência comigo. Meu namorado era a inspiração.

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