O que mais tememos é o que teremos q enfrentar, essa é a dinâmica da dona VIDA!
Sou um quarto com mobília construído em área propensa a mofo, num solo instável. Durante os 8 primeiros anos de minha vida fui entulhado com tralhas alheias por todas as gavetas e armários até que eles nem fechassem mais! No chão caixas e mais caixas se amontoaram! Me pisaram com os pés sujos de lama, jogaram lixo em mim, me quebraram os móveis! Nunca fui limpo. Vivia com as portas abertas...
E o tempo foi passando e mais lixo foi sendo jogado! Depois dos 18 anos fechei a porta, chega gente de entrar e me detonar!
Mas o estrago já estava feito e passei 20 anos no meio da sujeirada toda nem sabendo mais se era um quarto ou um banheiro, de tanta merda espalhada! Claro que me sentia muito mal em meio ao mau cheiro, não conseguia respirar direito de tanta tralha e a luz, por mais esforço que fizesse, não conseguia penetrar em mim, assim como não consegue iluminar direito uma floresta densa.
E com as portas fechadas e tanto incômodo, passei a fantasiar que era um palacete cheiroso e limpinho. E nas fantasias achava conforto que me tiravam da minha situação real de lixão.
Mas com o tempo passei a ter raiva de não ser o palacete, de não ser o que minhas fantasias criavam com base no que existe de bonito e feliz no mundo. Passei a me odiar e não me aceitar, o que as vezes era paradoxalmente interrompido pelos devaneios de superioridade: "ser um palacete, grande coisa? Melhor ser assim apenas um cômodo mesmo...." E esse jogo de oras me achar o máximo oras me achar o mínimo tomou conta, reforçado pelas pessoas que passavam na minha porta e diziam: "Ai mas o quarto do lado é tão melhor! Cresceu, ficou espaçoso e grandão!"
A tralha era tanta que forçou as paredes, elas começaram a ruir! Comecei a desmontar e via que a qualquer momento viria a baixo, como aconteceu! Desabei. Escombros com todo aquele lixo... Quis desistir de ser, não consegui. A VIDA não deixou.
Algumas pessoas vieram e me pisotearam, acharam ruim eu ter desabado, outras começaram a me limpar. Junto com elas comecei a botar ordem em mim e aproveitei pra me livrar de todo lixo que não era meu. A faxina começou.
Foram uns cinco anos faxinando, arrumando, consertando, construindo, as vezes cansava muito e desistia. As vezes parecia que estava secando gelo...
Até que pronto! Estava de pé de novo, refeita! A luz agora entrava pela janela e pelas frestas, mas toda vez que eu olhava para uma caixa dentro do armário, preferia ignorá-la. Sabia que ali estava aquele lixão, que agora era apenas um lixinho, mas por ele ser o responsável pelo início de toda baderna que fizeram comigo, por menor que ele estivesse o fato de ter que pegá-lo me trazia más lembranças.
Fui deixando ele lá no armário, até que ele começou a feder. Abri a caixinha e dei uma uma espiada, nossa que fedor! Fechei e a joguei pela janela. No dia seguinte acordei com um mau cheiro e que surpresa! A caixinha estava de novo dentro do armário!
Alguém da rua me disse: "Essa caixa é sua! Você tem que abri-la e limpá-la! É parte do jogo da VIDA! Você não pode simplesmente jogá-la fora, porque ela voltará! Assim como você se limpou toda, agora falta essa caixinha!"
Ai que preguiça! Mas lá fui eu limpar a danada, porque seu cheiro estava insuportável.
E limpei.
E vi perplexa como a força de um grupo de cômodos puderam me fazer me virar contra mim mesma!
2 comentários:
E que trabalheira limpar essas merdas todas hein... Nossas histórias se parecem, olhar a porcaria me fazia tanto mal que fantasiei que ela não existia mais. E levei isso o mais longe que eu podia, até que um dia tudo ruiu... e , bem, cá estou eu, ora cansado, ora desistindo, ora mais animado, mas limpando essa droga toda. vamos ver o que acontece, afinal não temos escolhas, se as caixinhas são nossas...
bjs
rick!!!!
limpe amore!!! faxine, pq vale a pena viu!!!
bjoka
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