Não queria ter que escrever sobre o assunto, aliás toda vez que tenho que explicar meu ponto de vista relacionado à uma normose* o encosto do Seu Madruga, pai da Chiquinha amiga do Chaves, se achega e aí tenho que exorcizá-lo para poder me comunicar. E assim faço, convoco o Seu Barriga e a Dona Florinda e o Madruguinha sai correndo. *Normose, segundo uma definição clássica, “é o conjunto de normas, conceitos, valores, estereótipos, hábitos, de pensar ou agir, que são aprovados pela maioria e que provocam sofrimento, doença e morte.”
Ou seja, toda vez que eu sinto vontade de escrever sobre uma normose estou praticamente gastando meus dedinhos à toa, porque vou contra o modo “normal” da sociedade funcionar, vou contra uma realidade já muito enraizada. Mas como meu querido Geison ao escrever sobre a obra primorosa “Cisne Negro” botou meu nome na roda, vou me pronunciar.
Um exemplo de normose que se transformou: a escravidão dos negros que era natural, mas diante da natureza da evolução da vida, ela acabou. Uma normose que ainda perdura hoje em dia: os artistas que diagnosticam problemas, mostrando duras realidades, não se dão o trabalho de também apontarem as várias soluções existentes, não se responsabilizam por aquilo que criam, se isentam das consequências nefastas que a obra pode causar, ainda mais quando esta atinge um público considerável e a desculpa é: “mas é arte, oras!”.
Antigamente tudo bem citar a afirmação acima, mas hoje em dia diante de um planeta que grita urgentemente por ajuda e que para se ter essa ajuda é preciso humanizar, despertar a consciência das pessoas, não adianta formular desculpas para a falta de comprometimento com aquilo que se poderia fazer, conservando a mentalidade de “eu não tenho nada a ver com isso, sou somente um artista que crio e ponto!”. Em um filme do “Homem Aranha”, tem uma cena aonde o menino está com raiva do lugar aonde ele se encontra – não sei se é o trabalho dele, não me lembro – e então alguem grita para ele segurar o elevador, porque tem um homem dentro e ele de raiva não o faz. O que acontece depois é que o tal homem do elevador era um bandido que mata o avô dele em um assalto, avô o qual ele amava muito. Ou seja, a omissão é catastrófica!
Portanto há alguns comportamentos “artísticos”, que na verdade existem por conta de uma indústria e nada tem a ver com a arte, que precisam ser modificados por aqueles que fazem parte dela, os quais ainda se escondem atrás da desculpa “faço arte”, quando na verdade são é omissos e até irresponsáveis perante a realidade!
Houve um frisson em torno do filme “Cisne Negro” porque além do filme ser muito bem realizado, o marketing do filme foi muito bom, e marketing bom é marketing silencioso, que nos pega de um modo que nem nos damos conta! O marketing é a ferramenta de ouro do nosso mundo capitalista e competitivo, é “a alma do negócio” sem dúvida! E ele pode fazer estragos se deturpa o conteúdo e funcionalidade daquilo que se está vendendo!
Ilustrando: eu dei um telefone lindo em forma de scarpin (sapato de salto) para minha sobrinha de quatro anos e o que ela quis fazer? Colocá-lo no pé! Minha irmã teve que explicar que aquilo parecia um sapato mas era um telefone, então ela entendeu! A mesma coisa acontece com o filme Cisne Negro que aborda o tema auto-mutilação e esquizofrenia, mas quando as pessoas vão assistir ao filme elas já estão inclinadas a ver aquilo que o marketing criou em torno dele, que nada tem a ver com seu tema retratado, e o diretor, que já trabalha em Hollywood, sabe muito bem que isto é uma prática comum da indústria a qual pertence, portanto o mínimo que deveria ter feito, já que seu filme aborda tema sério já tao envolto em tabus e preconceitos, era ter colocado logo depois da última cena do filme um aviso sobre essa doença, ou que a protagonista sofria dela, assim não ficaria dúvida na cabeça do público – a maioria criança, como minha sobrinha de quatro anos, quando o assunto é transtorno mental – de que aquela personagem passa por tudo aquilo não por causa da pressão do trabalho, mas porque ela tem uma doença a qual não está sendo tratada como deveria: por médicos, psicoterapeutas e terapeutas em geral!
Falo isto do Cisne Negro especificamente porque a doença é retratada de modo brilhante, mas não tão clara como por exemplo no filme “Ilha do Medo” de Scorcese, aonde vemos os pacientes recebendo tratamento médico, logo não há margem para disfarçar que aquele filme não retrata uma doença mental, o que dispensa o uso de texto explicativo no final.
Se assim o diretor do Cisne tivesse feito, levantaria o diálogo sobre algo muito relevante, ao invés de deixar o foco somente “na interpretação incrível de Natalie Portman, e de como ela é a melhor atriz e bla bla bla”!
Outra normose: como comparar um ator a outro? Cada ator é único, aliás cada ser humano é único! Competição é inerente em esportes, na arte ela é criada pela indústria que precisa de comparações para assim organizar Oscars e premiações a fim de deixar certos artistas e produtos visados, para então fazer muito dinheiro com eles. È o star system, que existe desde que Hollywood é Hollywood, e espertos como são criaram um modo incrível de divulgar e promover seus filmes: pegam artistas talentosos e então manipulam o público a adorá-los, resultado: dinheiro, muito dinheiro, prestígio, sucesso, respeitabilidade, para então morrer um dia como todo mundo…
Mas a indústria Hollywoodiana é simplesmente uma entre tantas outras que agem de modo semelhante…
2 comentários:
Sabe o que achei mais curioso sobre esse filme? Foi que meus amigos parecem não ter visto o mesmo filme que eu. Em geral, me disseram que o filme era sobre o mundo terrível e competitivo das bailarinas, sobre uma bailarina massacrada por um coreógrafo sádico e manipulador e ameaçada por uma outra bailarina competitiva e maldosa, além, de ser vítima de uma mãe louca e cruel. Oi? É o mesmo filme que eu vi?
Não vi nada disso.
A outra bailarina parecia ser uma menina ambiciosa e competitiva, mas nada de mais. Não me pareceu nem maldosa. A mãe era superprotetora. Mas quando ela corta as unhas da filha que estava se mutilando, ou insiste para que coma um pedaço de bolo, fica óbvio que a atitude da mãe estava ligada ao fato da filha já vir apresentando sintomas de uma doença mental e distúrbios alimentares. O coreógrafo é manipulador, mas não ultrapassa limites , na minha opinião.
O que de fato vi no filme, foi alguém que nitidamente estava sofrendo de um distúrbio mental.
Mas parece que o MUNDO INTEIRO deseja achar não, que ela estava sendo apenas pressionada pela situação. MINIMIZAR o sofrimento mental parece ser a nossa maior doença.
rick,
aleluia irmão!
assim como há varias especies de passarinhos acredito que há varias de seres humanos e nós definitivamente somos da mesma especie!
tomei a liberdade de postar esse seu comentario la no blog do pensamentos filmados aonde ta o post original, alias tava la respondendo um comentario sobre o assunto.
olha o que fiquei puta da vida foi com esse diretor e suas atrizes, principalmente natalie portman que é inclusive formada em psicologia na harvard e super dotada intelectualmente, por eles venderem esse filme exatamente como seus amigos e 90% dos espectadores viram!!!! gente isso é propaganda enganosa, é mkt mentiroso, leviano!!!
mas quem sofre de transtorno mental viu o filme que é: uma moça que desde o inicio ta claro que se auto mutila, ela se arranha e isso é um transtorno mental! que pode estar acompanhando outro! e isso tem a ver dentre muitas coisas, com a relação com a mãe.
af! to desabafando, mas o seu comentario disse tudo!
valeu!
bjoka
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